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Mutante abre o jogo: Volta por cima, rivalidade com Borrachinha e futuro

Mutante falou sobre tudo em entrevista (Foto: Reprodução Facebook Cezar Mutante)

Mutante falou sobre tudo em entrevista (Foto: Reprodução Facebook Cezar Mutante)

*Por Laerte Viana

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Você pode não ser o fã mais hardcore de MMA, mas provavelmente já ouviu falar o nome de Cezar Ferreira, o Mutante. Campeão peso médio da primeira edição do The Ultimate Fighter Brasil, pupilo de Vitor Belfort, dono de uma personalidade forte e, devido ao sucesso estrondoso do reality show do UFC, o primeiro em solo brasileiro e transmitido em rede nacional pela Rede Globo, um dos principais rostos que representava a nova geração de lutadores brasileiros. Esses eram alguns dos elementos que moldavam o status de Mutante em 2012, no início de sua trajetória no Ultimate.

O sucesso, no entanto, demorou a vir. Após conquistar o TUF Brasil 1, alternou altos e baixos na organização, ao ponto de ficar ameaçado de demissão após ser nocauteado em três oportunidades, todas no primeiro round. A maré começou a virar para Cezar em abril de 2016, quando derrotou o então favorito Oluwale Bamgbose e ganhou sobrevida na casa. Desde então, somou mais três triunfos em quatro lutas, feitos que o colocam próximo do top 15 dos médios.

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Em entrevista exclusiva, ele abriu o jogo sobre o início irregular no UFC, a volta por cima na carreira, a nova rivalidade criada com Paulo Borrachinha, planos para o futuro, amizade com Vitor Belfort e mais. Confira:

SL: Sua chegada ao UFC foi cercada de expectativa, até por ter sido campeão do TUF Brasil 1 e ser pupilo do Vitor Belfort. A cobrança em torno do seu nome te atrapalhou de alguma maneira? 

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CEZAR MUTANTE: Acho que não atrapalhou, não vejo aquela época como algo negativo. Foi muito bom para a minha carreira, até mesmo por ter me tornado o primeiro campeão do TUF Brasil, programa responsável por ajudar a popularizar o MMA no nosso país. Quando eu digo popularizar, me refiro ao fato de ter passado na (Rede) Globo, entrou na casa de todo mundo, todas as idades começaram a acompanhar o UFC. Acredito que minha participação no programa fez muito pelo esporte no Brasil, então eu sou muito feliz por ter contribuído de alguma forma a elevar o MMA.

SL: Você passou por um momento delicado, chegando a sofrer três derrotas por nocaute em quatro lutas. Qual foi a mudança chave para conseguir dar a volta por cima?

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CM: A vitória ensina muito, mas as derrotas ensinam muito mais se a pessoa for humilde o suficiente para entender o que aconteceu e tentar melhorar. Na época eu tive vários fatores externos que me atrapalharam muito. Tive diversas lesões, e uma delas quase me aposentou. Fiz uma cirurgia enorme na coluna, tive que fixar a coluna com oito parafusos, fiquei 10 dias de cama no hospital, só usando morfina. Diante de tudo isso que aconteceu, olho para trás e penso: ‘Caramba, como que eu consegui passar por tudo e ainda estar lutando, fazendo o que eu amo?’. Então eu falo que isso foi uma bênção em minha vida. Eu sempre digo que o lutador mostra que é um bom lutador pela capacidade de resiliência que ele demonstra. Quando acontece alguma coisa negativa, algo que não era esperado, você não pode se desesperar e achar que é o fim, é preciso tentar sempre mais uma vez, ir em busca do que você realmente quer. Eu sempre fiz o meu melhor.

Eu tive um momento baixo na minha carreira, mas graças a Deus, primeiramente, e à minha vontade de querer estar lutando, essa paixão pelo esporte, eu consegui dar a volta por cima e hoje estou aqui, já são quatro vitórias em cinco lutas e um bônus de performance da noite. Estou muito feliz em poder dar a volta por cima e deixar essa mensagem motivacional para as pessoas que estão começando ou enfrentando qualquer tipo de problema.

SL: Seu estilo de atuar mudou nas últimas lutas, você está mais estratégico. Considera essa adaptação essencial para as boas performances? 

CM: Com certeza. Existe aquela vontade de sair na porrada, de nocautear, mas o fundamento principal da arte marcial é bater e não apanhar. No ano passado eu mudei de time, vim treinar na MMA Master com o Cesar Carneiro, Daniel Valverde, são caras que chegaram e me falaram: ‘Pô, você tem um jogo diferente, é capoeirista, precisa de um treinador que entenda seu estilo e faça uma adaptação para potencializar ainda mais o seu jogo’. Eles me ‘pegaram’ com muito carinho, muita atenção. Isso foi determinante para o sucesso que estamos tendo agora, conseguimos mostrar uma boa melhora.

SL: Em fevereiro de 2018 você irá completar 33 anos. Sente que está no auge da sua carreira? 

CM: É muito complicado avaliar o auge. Acho que o auge ainda não chegou, tenho muito o que aprender. Todos os dias eu levanto para ir para a academia motivado. Eu chego lá com o sentimento de faixa-branca, sabe? Aquele cara que aprende um arm lock (chave de braço) e quer fazer até na esposa na hora que chega em casa (risos). É assim que eu me sinto quando aprendo uma técnica nova. Graças a Deus estou saudável, sem lesões, querendo melhorar a cada dia. Eu ainda tenho muito a mostrar no UFC.

SL: Você sempre foi um cara muito tranquilo, nunca gostou de provocar ninguém, mas ultimamente tem pedido veemente para enfrentar o Paulo Borrachinha. Por que esse desafio a ele? 

CM: O Borrachinha é um cara que está sendo muito desrespeitoso no mundo do MMA. Esses garotos de hoje em dia perderam um pouco da noção do que é o respeito, algo essencial que a arte marcial prega. O Borrachinha é um cara totalmente sem personalidade, está desafiando todo mundo, chamando os adversários de frouxo, mas não é bem por aí. Todo mundo acha que eu tomei essa atitude porque ele desafiou o Vitor (Belfort), mas não é verdade, eu sairia em defesa de qualquer lenda do esporte. Você pode desafiar quem quiser, até porque esse é o nosso trabalho, estamos prontos para receber desafios e fazer grandes lutas, só que como você chega em um cara com o calibre do Vitor, do Anderson Silva, (Rodrigo) Minotauro, Fedor (Emelianenko), quem seja, e o chama de covarde e amarelão? Isso não existe. Cadê o respeito? Para quem não sabe, ele foi um cara que nós demos oportunidade quando estava começando. O trouxemos aqui para os Estados Unidos para treinar com o nosso time, demos um trabalho para ele, e ele saí falando essas besteiras. Para mim ele é um ‘creonte’, como diria o Carlson Gracie. É um cara que está totalmente soberbo, sem personalidade, mudando de apelido toda hora. Uma hora é ‘Golden Boy’, uma hora é ‘Borrachinha’, uma hora é The Eraser… daqui a pouco vai ser ‘The Notorious’, porque ele está achando que é o Conor McGregor. Então é uma luta pessoal, estou realmente querendo. Se o UFC quiser casar, estou pronto para aceitar a qualquer hora.

SL: Você teve algum tipo de resposta do Borrachinha ou até mesmo do UFC, em demonstrar interesse em casar essa luta?

CM: Eu acho que não cabe a ele (decidir). As pessoas tratam o Borrachinha como se ele fosse um campeão, mas é um cara que ainda não fez nada. Eu convido a qualquer um ir olhar o cartel dele. Suas lutas foram todas dentro de academia, se for checar (o cartel) não tem nenhum nome conhecido, é tudo porteiro da academia. A única exceção é o Johnny Hendricks, mas que está praticamente aposentado. A mídia está colocando ele em um pedestal, mas ele ainda não foi testado contra um lutador de verdade. E volto a repetir: não cabe a ele decidir se vai aceitar ou não, porque ele trabalha para uma empresa da mesma forma que eu. Se o UFC decidir que essa luta vai acontecer, ela vai acontecer. Estou pronto para qualquer chamado que o UFC fizer.

SL: Se não acontecer o duelo com o Borrachinha, já pensa em algum outro nome para enfrentar na sequência? 

CM: A luta que eu realmente quero é essa com o Borrachinha. Eu nunca fui de desafiar ninguém, nunca escolhi luta. Eu quero ver agora. Ele não fica chamando os outros lutadores de frouxos? Não chamou o Derek Brunson de frouxo? Vamos ver se ele me responde, se ele aceita me enfrentar. Se ele falar que não é um frouxo, vai querer lutar comigo, caso contrário vai ficar escolhendo luta. Ele é um lutador de mentira, uma hora ou outra essa máscara vai cair, estou avisando isso antes de acontecer. Muitos vão falar que eu sou invejoso, mas eu estou avisando.

SL: Por que você acha que ainda não te colocaram no ranking? E você se enxerga em que posição ali nos médios? 

CM: Eu não me preocupo muito com isso, até porque o ranking é uma coisa complicada de entender. Se for analisar o que o (Thiago) Marreta vem fazendo, está metendo a porrada em todo mundo, e estava no 15º lugar, mas o tiraram (do ranking) e colocaram o Borrachinha, que só tem três lutas no UFC, não dá para entender. Mas não é algo que eu me importo, eu trabalho sempre para fazer grandes lutas, sem me preocupar com o ranking. Se Deus quiser eu vou continuar vencendo quem o UFC me der para enfrentar. Meu foco é fazer grandes performances e subir um degrau de cada vez para chegar no topo. Quanto tempo isso vai demorar, não sabemos porque sempre tem fatores externos que não dependem só da gente, mas estou disposto a dar o meu melhor.

SL: Quem você acha que será o próximo a disputar o cinturão dos médios? 

CM: Cara, não sei… é uma boa pergunta. É meio complicado entender, pois teoricamente o Georges St. Pierre teria que defender o cinturão dele, estava no contrato, mas temos que esperar o pronunciamento da organização. Meu foco é em quando eu vou chegar lá no topo (risos).

SL: Você vai ajudar na preparação da próxima luta do Vitor Belfort, dia 14 de janeiro, contra o Uriah Hall

CM: Eu treinei com o Vitor Belfort algumas vezes aqui na Flórida (EUA), recentemente até conversamos por telefone, mas todo mundo sabe que a gente já não treina juntos com tanta frequência. Hoje eu tenho o meu próprio time, enquanto ele está fazendo o trabalho dele lá na Tristar Gym, no Canadá. Que por sinal é uma ótima equipe, vem fazendo um ótimo trabalho. Assim como ele, também sou adepto da evolução. Da mesma forma que ele me deu muito apoio quando fui treinar na Master MMA, eu fiz o mesmo por ele. Nossa amizade vai além do esporte, somos amigos pessoais, sempre estaremos juntos, independente do lugar onde estivermos treinando.

SL: Acha que o Vitor irá renovar o contrato com o UFC? 

CM: Eu não cheguei a conversar com ele sobre essa questão, mas eu li que essa é a última luta do contrato dele (com o UFC). Vamos ver como será essa luta, acredito que ela terá uma boa performance, tem tudo para vencer o Uriah Hall. Nunca podemos subestimar as habilidades de um cara que já foi campeão, ele sempre será perigoso. Vamos ver o que o futuro irá nos mostrar.

Publicado por
João Vitor Xavier
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