Cris Cyborg se pronunciou após a polêmica briga com a lutadora Angela Magaña, ocorrida no último domingo, durante evento organizado pelo UFC. Através das redes sociais, a brasileira se defendeu das acusações, alegando ter sido vítima de bullying online.
“Não é segredo que já fui e tenho sido vítima de bullying online. Em alguns momentos da minha carreira, senti como se houvesse um time de jornalistas usando a internet para formar a visão do público sobre a minha marca. Muitas vezes, era como se estivessem tentando me transformar no rosto do abuso de anabolizantes no MMA”, diz Cyborg em um trecho do comunicado.
Em outra parte do texto, Cyborg reclama do preconceito sofrido por sua aparência. Ela cita, inclusive, um comentário infeliz de Joe Rogan, comediante e omentarista do Ultimate, que sugeriu que a curitibana poderia descer de categoria se “cortasse fora seu órgão masculino”.
“Apesar de fazer alguns anos que alguém disse que eu parecia “o Wanderlei Silva de vestido”, não parece fazer muito tempo que eu ouvi alguém dando conselhos sobre como cortar meu pênis me ajudaria a bater os 61,2kg do peso-galo mais facilmente”, escreveu.
“Busquei a palavra “cultura” no dicionário e está definida como “comportamento social e normas encontradas nas sociedades humanas”. Isso me fez começar a pensar em todas as diferenças culturais que formaram meus ideais e como essas experiências esculpiram o meu conhecimento sobre a vida e as relações.
Valores vitais da cultura são aprendidos através de líderes em comunidades onde nós vivemos, trabalhamos, e interagimos regularmente. Quando eu comecei a treinar na Chute Boxe em Curitiba, eu aprendi o verdadeiro espírito de lutador ao ver lendas como Wanderlei Silva, Maurício Shogun, e Evangelista Cyborg treinando todos os dias na academia. Todo mundo olhava para esses lutadores como exemplos a serem seguidos. Nós víamos o trabalho duro, o coração e a dedicação que era preciso para se tornar campeão e nós aprendemos a não esperar nada menos de nós mesmos.
Ao treinar com essas lendas do esporte, aprendemos a vencer com orgulho e, no caso de uma derrota, a lidar com ela de forma íntegra. Mesmo que eu não esteja mais treinando com o mestre Rudimar Fedrigo e com a Chute Boxe em Curitiba, acho que eu ainda represento a cultura do time e os valores que nós sempre honramos e respeitamos, além da disciplina. E é por isso que eu tenho levado comigo com muito orgulho a bandeira #CHUTEBOXE durante toda a minha carreira.
A forma como selecionamos os nossos amigos é muito diferente da forma como empresas selecionam quais pessoas vão construir relações de trabalho. O sucesso de qualquer empresa adquirida é baseado na habilidade dos donos de integrar os valores principais das duas companhias, dando sentido especial ao desenvolvimento da comunicação, que pode resultar em uma resolução positiva de conflito, principalmente quando problemas ou mal entendidos acontecem.
Durante o meu tempo na Chute Boxe, também aprendi que, da mesma forma como acontece na luta, a cultura nos negócios é desenvolvida por aqueles que têm sucesso e perfis de alto nível dentro da empresa. Exemplos de liderança são aprendidos de cima para baixo, resultando no que eventualmente se torna a cultura da empresa e sua identidade nas relações com seus empregados e associados.
Quando comentários depreciativos são feitos no topo, isso faz com que o exemplo de cima seja aceitável ao longo da empresa, permitindo que indivíduos da base da pirâmide continuem seguindo esses exemplos de líderes, estabelecendo assim uma cultura e práticas na companhia. Não é segredo que já fui e tenho sido vítima de bullying online. Em alguns momentos da minha carreira, senti como se houvesse um time de jornalistas usando a internet para formar a visão do público sobre a minha marca. Muitas vezes, era como se estivessem tentando me transformar no rosto do abuso de anabolizantes no MMA.
Apesar de fazer alguns anos que alguém disse que eu parecia “o Wanderlei Silva de vestido”, não parece fazer muito tempo que eu ouvi alguém dando conselhos sobre como cortar meu pênis me ajudaria a bater os 61,2kg do peso-galo mais facilmente.
Quando as pessoas veem ações de pessoas tão importantes sendo promovidas nas redes sociais sem nenhuma consequência, nem mesmo um pedido de desculpas público, elas acham que isso é um comportamento aceitável dentro da empresa, muitas vezes visto como uma oportunidade de se autopromoverem.
Uma empresa jamais deveria permitir que seus funcionários desenvolvessem uma cultura de assédio sexual, discriminação racial, ou discriminação contra mulheres no ambiente de trabalho.
Quando duas empresas trabalham juntas, não é apenas o dinheiro, mas as relações entre essas empresas que estabelecem os valores, duração e sucesso da parceria. É preciso se sentir bem-vinda, respeitada e confiar que as duas empresas vão se beneficiar mutuamente. Buscar os mesmos objetivos é algo essencial para o sucesso de qualquer compromisso de logo prazo. Lucro é importante, mas não pode ser o único fator que determina a junção de duas empresas. O que é o lucro de uma pessoa se ela ganhar o mundo e perder sua própria alma? Ou o que uma pessoa precisa dar em troca de sua própria alma?
Para mim, é simples ver as coisas que eu valorizo. Sou uma menina de família do Brasil que não se impressiona com as luzes do show e o som do rádio. Enquanto eu valorizo o dinheiro, também sei o valor da alegria de se trabalhar para uma empresa que valoriza o respeito, a lealdade, e a honestidade entre seus funcionários, desencorajando um ambiente de trabalho onde assédio sexual, discriminação racial e discriminação contra mulheres é aceitável como promoção.”