O médico Laércio de Oliveira César, responsável pelo laudo da Polícia Civil que atestou a causa da morte do lutador Ryan Gracie, afirmou na tarde desta quinta-feira (21) que ele morreu por causa da interação entre os medicamentos, alguns deles ministrados pelo psiquiatra Sabino de Farias Neto. Segundo o delegado Roberto Calaça Vieira, responsável pelo inquérito, o médico deve ser indiciado por homicídio culposo
Entretanto, o médico evitou afirmar que houve excesso na dose de remédios: “houve uma interação medicamentosa, o que pode ocorrer mesmo quando as doses não sendo altas. Uma droga interagiu com outras e houve a depressão do sistema nervoso central”, disse.
O laudo conclui que o lutador morreu de hipoxemia, que é a diminuição aguda de oxigênio nos glóbulos vermelhos, causada por um edema agudo de pulmão. Isso foi causado pelo colapso do aparelho respiratório e cardíaco, de acordo o laudo. O coração deixou de funcionar e pulmão também em decorrência da depressão do sistema nervoso central, que controla esses órgãos.
De acordo com o médico do Instituto Médico Legal (IML), o lutador tinha sido medicado porque apresentava problema psiquiátrico. O psiquiatra do lutador administrou medicamentos com finalidade de sedar o paciente e eliminar um quadro paranóico. “Se ele só tivesse tomado as drogas [cocaína, maconha] acredito que não teria morrido”, disse.
Influência da cocaína
Mas, segundo o médico, a cocaína também influenciou na interação medicamentosa, que contribuiu para a depressão do sistema nervoso central. Ele diz que a droga inicialmente excita sistema nervoso, mas depois é potencialmente depressora. Ela explica que a cocaína produz alterações extramamente graves no coração. Segundo ele, o coração do lutador apresentava alterações cardíacas compatíveis com uso prolongado de cocaína.
O médico diz que existem medicamentos que podem causar depressão no sistema nervoso central, como ansiolíticos – calmantes – que atuam no cérebro. Mesmo sendo dadas em doses terapêuticas.
No caso de Ryan Gracie, explica o médico, “essas drogas tiveram um efeito chamado de ‘aditivo’. O efeito de uma somou-se com efeito depressor da outra, eram seis medicamentos potencialmente depressores do sistema nervoso central”, disse.
Indiciamento
Segundo o delegado Roberto Calaça Vieira, responsável pelo inquérito, o médico deve ser indiciado no artigo 121, que classifica o ocorrido como homicídio culposo. “Se ele não tivesse ingerido todas essas drogas lícitas ele não teria morrido. [Sabino] vai responder em liberdade porque a pena é de detenção de 1 a 3 anos”, disse. Ele afirmou que o médico não pediu que o lutador fosse transferido para hospital. “Se tivesse pedido, nós o levaríamos para um pronto-socorro”, disse, citando a lei de execuções penais.
Defesa
Após a divulgação do laudo, o advogado do médico, Pedro Lazarini Neto, voltou a negar a culpa de seu cliente e afirmou que ainda não conhece o teor do laudo. “Não fomos comunicados ainda. Quanto ao indiciamento [por homicídio culposo], doutor Sabino atendeu Ryan para salvar uma vida e não para tirar”, disse.
Nesta quinta-feira, o G1 tentou contato por telefone com o psiquitra. Uma pessoa que atendeu seu celular e se identificou como filho de Sabino disse que ele estava incomunicável. Em entrevista ao Fantástico, exibida no domingo, o psiquiatra se defendeu da divulgação de dados preliminares do laudo. “Há 31 anos eu atendo pacientes que usam maconha, cocaína, bebida. E uso medicações exatamente nesse nível”, afirmou o médico de Ryan.