Jones admite vício em drogas e diz: ‘Temi perder minha liberdade’

J. Jones (foto) é ex-campeão dos meio-pesados. Foto: Josh Hedges/UFC

J. Jones (foto) é ex-campeão dos meio-pesados. Foto: Josh Hedges/UFC

Sete meses após o dia que mudou os rumos de sua carreira, Jon Jones enfim quebrou o silêncio e deu detalhes sobre a série de acontecimentos que culminaram em sua perda do cinturão dos meio-pesados do UFC.

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O ex-campeão da divisão até 93 deu uma longa e franca entrevista ao site norte-americano “MMA Fighting”, na qual, entre outras coisas, admitiu seu vício em maconha e álcool. “Consegui esconder do mundo que fumava e bebia três, quatro vezes por semana, mas agora percebo que tinha um problema”, revelou o lutador, que confessou que nunca foi totalmente disciplinado nos treinamentos para seus combates.

Jones também dividiu sua visão sobre o fatídico acidente de trânsito no qual se envolveu no fim de abril, quando cruzou um sinal vermelho e atingiu um carro guiado por uma mulher grávida. “Tudo aconteceu muito rápido, mas na hora sabia que tinha feito uma besteira das grandes. Não consegui ver se bati num carro ou num caminhão, se era um homem ou uma mulher. Quando descobri que era uma mulher grávida, me assustei. Fiquei miserável. Fiquei pensando que seria preso e nunca mais veria meus filhos e esposa”, declarou.

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Além disso, “Bones”, que já está liberado para lutar no UFC, também falou sobre a batalha para largar o vício e disse que Ronda Rousey e Conor McGregor lhe mostraram apoio imediato. Confira os principais tópicos da entrevista:

Como vem sendo sua vida:

Foram seis meses de experiências, de aprendizado e crescimento. Aprendi muito. Tive a oportunidade de reavaliar a vida, olhar para mim mesmo além da figura de campeão do UFC e prestar atenção no Jonathan Jones, a pessoa, o pai, e não só o atleta.

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Contexto do acidente:

Eu estava assistindo às lutas [do UFC 186] com alguns amigos que estavam na cidade. Me diverti muito. Depois, fomos a um bar e bebemos um bocado. Saímos de lá e fomos a uma festa na casa de um amigo. Bebi um pouco mais e decidi dormir por lá. Fazer isso era algo normal para mim. Sou um cara que gosta de festar e conseguia vencer minhas lutas mesmo assim. Achava que isso não me afetava.

A batida:

Mas foi uma situação louca. Acordei na manhã seguinte [à festa] e entrei em meu carro, ainda muito cansado. Lembro de chegar a um semáforo, digitando no meu celular, e vi uma luz verde acendendo. Achei que era verde para mim, mas era para quem ia reto – eu ia virar. Pisei no acelerador e me vi no meio do trânsito. Acho que acertei um carro e este carro acertou outro. Tudo aconteceu muito rápido, mas na hora sabia que tinha feito uma besteira das grandes.

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Primeira reação:

Como eu não tinha me machucado, assumi que não havia feridos. Mas, como eu ainda estava com o cheiro da noite anterior, queria sair de lá antes que a polícia chegasse. Eu entrei em pânico, então fugi. Disseram que eu voltei ao carro para pegar dinheiro… Isso não aconteceu. Por que eu voltaria, sendo que meu dinheiro está aplicado em investimentos? O que aconteceu foi que eu me afastei por cinco metros do carro e lembrei que eu tinha um cachimbo para fumar maconha. Se a polícia encontrasse isso no carro, tudo ficaria ainda pior. Voltei ao carro, mas acho que o cachimbo tinha voado longe e não o encontrei. Então, fugi novamente. Mas não consegui ver se bati num carro ou num caminhão, se era um homem ou uma mulher.

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As consequências:

Depois, liguei para um amigo que me levou a um hotel. Passei a noite lá, até poder conversar com advogados e entender o que tinha acontecido. Só soube que era uma mulher [no carro atingido] depois que entrei no hotel. Minha mulher e meu sócio me ligaram para perguntar o que tinha acontecido. Foi um dos momentos mais estranhos da minha vida. Eu literalmente chorei o dia inteiro. Achei que minha carreira estava acabada. Foi um dia longo e fiquei mais depressivo que nunca. Quando descobri que era uma mulher grávida, me assustei. Não sabia se o bebê ficaria bem ou por quanto tempo ela estava grávida. Eu fiquei miserável. Fiquei pensando que seria preso e nunca mais veria meus filhos e esposa. Naquela hora, eu nem pensei em lutar, mas sim na possibilidade de perder minha liberdade. Eu sabia que ali iria começar uma longa jornada para minha vida voltar ao normal. Pensei em deixar de ser uma pessoa pública e lidar com isso com a minha família.

A decisão de voltar:

Pensei em voltar porque estava muito desapontado. Vi as consequências ruins que isso teve para mim, e eu mereci. Vi vários atletas falando mal de mim, jornalistas que costumavam me elogiar me criticando. Isso machucou. Parecia que a indústria tinha virado as costas para mim. É fácil chutar alguém que está no chão, mas tentei não levar para o lado pessoal. Então, o melhor que poderia fazer era voltar e ser melhor do que eu era antes.

Quem mais apoiou:

Ronda Rousey entrou em contato comigo, assim como Conor McGregor. Ronda me apoiou demais, ela enviou mensagens a mim por várias vezes. Ela me convidou a ficar em sua casa de praia na Califórnia. “Tudo o que eu puder fazer por você, me avise. Tenho uma casa aqui e ninguém sabe onde fica, então ela é sua pelo tempo que você quiser”, coisas assim. Eu falei “uau”. Essa garota está no topo do mundo, mas mesmo assim parou para pensar em mim e na minha fase mais difícil. Nunca vou me esquecer disso. Conor McGregor me disse “ei, campeão. Uma vez campeão, sempre campeão. Você vai voltar mais forte do que antes”. Além dos meus companheiros e treinadores, que sempre tentaram me manter motivado.

Largando os vícios:

Eu não bebo mais, não fumo mais maconha. Isso já faz três ou quatro meses. Não é difícil, porque fico feliz em me libertar disso. Me levou um tempo para perceber que eu tinha um problema. Afinal, eu conseguia fazer meu trabalho, vencer minhas lutas e cuidar da minha família mesmo assim. Eu conseguia esconder do mundo o fato de que eu fumava maconha e bebia três, quatro vezes por semana. Mas, agora que estou sóbrio, vejo que eu tinha um problema. Gastei muito tempo e dinheiro com isso, mas agora estou livre.

Sobre cocaína:

Essa questão da cocaína é maluca. Falo olhando em seus olhos: eu não gosto de cocaína. Eu não era um cara da cocaína. Eu fumava maconha com frequência, e quem me conhecia sabia. E eu adorava beber. Mas, com cocaína… Eu cheirei cocaína uma noite e, no dia seguinte, estava o cara da Comissão… “Como é que isso foi acontecer?”, eu pensei. Aí todo mundo acha que eu era viciado em cocaína, mas eu jamais conseguiria obter minhas conquistas com cocaína. Eu era viciado em maconha, mas agora não mais. Muita gente me dizia que eu seria ainda melhor sem maconha e álcool, e agora estou ansioso para ver.

Publicado por
Bruno Ferreira
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