No último sábado (11), Jonas Bilharinho fez história no MMA nacional ao se tornar o primeiro atleta a conquistar dois títulos simultaneamente no Jungle Fight. Campeão dos galos da organização, o atleta de 24 anos de idade subiu de categoria e nocauteou Fabiano Soldado para também levar para casa o cinturão dos penas. Com isso, Bilharinho só tem uma meta em mente para o futuro: assinar contrato com o UFC.
Em entrevista ao SUPER LUTAS, Bilharinho afirmou que um acordo com a maior organização de MMA do planeta seria o passo mais lógico para sua carreira no atual momento. “Não tem outro passo para eu dar. Não quero mais andar para os lados ou para a diagonal, eu quero andar só para frente, no UFC. Sempre o UFC. Por mim, eu lutaria no UFC na semana que vem”, disse o atleta. “O único que vai conseguir um ‘sim’ meu é o Dana White.”
A revelação do Team Nogueira também comemorou sobre sua boa adaptação à categoria dos penas, na qual se sentiu no auge de sua forma física. “Eu fiquei um monstro de forte. Eu cerrava meu punho para socar e a impressão que eu tinha era de que iria quebrar a minha mão, de tanta força com que eu estava”, analisou. “Agora achei minha categoria.”
Além disso, Bilharinho comentou sobre suas expectativas para o futuro, sua tentativa de entrar para o elenco do TUF Brasil 4, seus pontos fracos como lutador, a controversa luta com Mário Israel e sua admiração por Conor McGregor.
O que representa pessoalmente para você ser o primeiro campeão em duas categorias diferentes no Jungle Fight?
Pessoalmente eu fiquei muito feliz por conseguir trazer isso para a minha academia, porque nenhuma conquista é individual, embora o esporte seja individual. Isso é fruto de muito trabalho, de investimento de muitas pessoas. Não sou só eu que estou investindo tempo em mim. Tem o Alex Gazé, que perde todo o tempo fazendo estratégia para mim, me polindo no muay thai. E não é só na parte da luta: tem a gestão de imagem, família, amigos, tudo, tudo. O Minotauro foi um pai para mim neste camp, o mestre Vander Valverde, que é o headcoach lá da Team Nogueira. Foi uma realização, além de profissional, foi uma realização pessoal trazer um marco histórico para a minha academia. Fico muito contente.
E agora, com dois títulos nas mãos, o que você pensa para a sua carreira a seguir?
Não tem outro passo para eu dar. Não quero mais andar para os lados ou para a diagonal, eu quero andar só para frente, no UFC. Sempre o UFC. Já neguei proposta dos eventos de Dubai, já neguei dezenas de propostas de eventos do Brasil, neguei proposta do Bellator, que é o segundo maior evento do mundo. O único que vai conseguir um “sim” meu é o Dana White.
Mas qual seria seu plano se o convite não vier?
Aí não vou ter outro jeito. Se o convite não vier, eventualmente vou ter que defender, mas não seria por opção minha. Por mim, eu lutaria no UFC na semana que vem. Se eu fosse mudar de evento, mudaria para algum outro evento aqui do Brasil mesmo, para agregar mais cinturões à minha carreira. Porque, por exemplo, se eu defender o cinturão dos penas, aonde eu vou chegar? Vou estar exatamente no mesmo lugar que estou agora. E quando eu defender o cinturão dos galos? Vou estar no mesmo lugar que estou agora. A minha tendência seria mudar de evento e conquistar outros cinturões. Sinceramente, se o fato de eu ser o primeiro campeão da história com dois cinturões no Jungle não me colocar no UFC, nada vai me colocar. Então, não vou insistir no evento.
Neste momento, você está conseguindo fazer algo para “cavar” uma vaga no UFC?
Não tem muito como eu procurar o UFC, porque o convite é sempre feito de cima para baixo. Mas viria muito a calhar se a mídia pudesse me ajudar com isso, de tentar fazer o Dana chegar até mim de alguma maneira. Porque tenho certeza de que ele já sabe do meu nome e já acompanha a minha trajetória. No ano passado, saiu uma lista de nomes a serem contratados pelo UFC e eu estava em segundo, quando eu não era nem campeão do Jungle ainda. O primeiro nome era o do Vitor Miranda e ele já foi contratado. Acho que agora o quadro deva ser parecido, mas o convite oficial realmente ainda não veio. Então, quem estiver lendo, se puder fazer qualquer campanha, qualquer coisa para ajudar a chamar a atenção do Dana, por favor! [risos]
Você citou o nome do Vitor Miranda, que foi um lutador que ficou vários anos no cenário nacional até enfim ser contratado pelo UFC. E a chegada dele ao Ultimate só aconteceu por conta do TUF Brasil, onde ele foi vice-campeão. Você chegou a tentar entrar no TUF Brasil 4, certo? Como foi essa experiência?
Eu queria entrar na divisão dos leves, porque eu não conseguiria bater 61 kg [dentro da casa] quatro vezes lá dentro do programa. E a produção falou que não, que me queriam lutando nos galos porque eu já era campeão nessa categoria. Mas, posso falar a verdade? Não é recalque, nem um pouco. Se eu pudesse escolher entre ser campeão do TUF e entrar no UFC, e ser campeão de duas categorias no Jungle e entrar no UFC, escolheria a segunda opção. Além de isso ser um feito mais único, é algo que eu almejo há muito tempo. Eu falava para as pessoas “eu vou pegar esse cinturão e vai ser melhor não ir para o TUF”, mas todo mundo dizia que o TUF era um caminho mais seguro. Mas não é questão de segurança, é questão de mérito, do que é melhor para mim a longo prazo.
Como campeão dos galos e penas do Jungle, em qual categoria você projeta o futuro da sua carreira?
Pena. Sem dúvidas. Eu fiquei um monstro de forte. Eu cerrava meu punho para socar e a impressão que eu tinha era de que iria quebrar a minha mão, de tanta força com que eu estava. Eu me senti muito, muito forte. Uma coisa que eu sempre reparei quando lutava nos galos – e não falo nem na questão estética, mas sim técnica – era que a parte posterior do meu corpo ficava muito enfraquecida. A lombar ficava enfraquecida, o glúteo ficava muito reduzido. O short ficava até frouxo. A parte posterior da coxa, ombros, peito… A parte física ficava enfraquecida, mesmo eu recuperando 10, 11 kg. Eu batia 71, 72 kg, e ficava muito carente de massa muscular por causa de minha estatura – eu tenho 1,81 m. Eu estava vendo o vídeo dessa minha última luta, quando fui abraçar a minha equipe, e vi a parte de trás da minha perna, minha bunda, minhas costas, estavam enormes. Eu estava muito forte, com 76 kg. Aquilo ali é a forma física de que eu preciso para lutar. Ali eu estava forte de verdade, vivo na luta, veloz. Agora achei minha categoria.
Como é que era o processo de corte de peso de quando você lutava nos galos?
Por falta de palavra melhor, era um inferno. Era horrível. Eu descia 16 kg, mais ou menos, de 77 para 61. É muita coisa, algo muito sacrificante. Inclusive na minha penúltima luta, contra o Mário Israel, eu entrei até um pouco desidratado para lutar, já que eu recuperei só oito quilos. Foi tudo ruim. Tinha tudo para dar errado, mas ainda bem que deu certo.
Você mencionou a luta contra o Mário Israel, que causou muita controvérsia de gente que achou que você perdeu a luta. Apesar de seu foco estar no UFC, você pensa em um dia tirar essa luta a limpo de vez para acabar com esses questionamentos?
Olha, questionamento dos outros nunca vai me fazer ter dúvida em nada. A opinião dos outros sempre vai ser dos outros e a minha sempre vai ser a minha. Obviamente há opiniões que eu considero, mas essas normalmente eu vou pedir. Não adianta ninguém tentar postar algo ofensivo na mídia, nada ácido, porque eu posso garantir a essas pessoas que nada vai me atingir. Se eu não me abalei com o chute dele na minha cabeça durante a luta, não vai ser uma opiniãozinha no Instagram e no Facebook que vai me abalar. Sou bem frio com essas coisas.
A luta, para mim, se passou de uma maneira muito, muito clara. Eu perdi o primeiro round, mas no segundo eu encontrei a distância e golpeei muito mais do que fui golpeado. Não fui posto para baixo, ganhei o round. Terceiro round, a mesma coisa. Para mim, essa dúvida toda foi gerada pela opinião do Luciano Andrade [comentarista do canal Combate, que transmitiu a luta]. Quando o Rhoodes [Lima, narrador] pergunta o que ele está achando do segundo round, acho que, no susto, para não falar que não tinha uma opinião formada, ele acabou dizendo que estava mais para o lado do Mário Israel. Mas, de verdade, eu acho que ele não tinha uma opinião formada ali e pendeu para o lado do campeão. Se você reprisar essa luta e colocar no mudo, você não vai conseguir ter uma opinião diferente. Você vai ver que eu golpeei mais e ponto final. Eu não tenho dúvidas, aquela luta ali eu ganhei, e quem acha que não, problema de quem acha que não. O cinturão vai continuar aqui no meu ombro. A revanche eu já dei e quem não quis foi ele. Quando ele quiser marcar uma luta comigo, estou aqui para lutar com ele. Mas agora vai ter que ser 66 kg.
Então você não vai defender o cinturão dos galos?
Não. O futuro campeão dos galos do Jungle Fight vai ser o Felipe “Cabocão” Colares, lá do Team Nogueira. É um monstrinho, cartel invicto de 4-0, um dos melhores mixers que tem lá no CT. Esse é o futuro da categoria do Jungle Fight.
Por ser um evento de escala global, o UFC conta com atletas de diversas origens, que têm diferentes pontos fortes. Em quais aspectos você acha que precisa melhorar seu jogo para se preparar para este cenário?
Essa é uma excelente pergunta. Eu estou sempre trabalhando meu ponto mais fraco. Se eu acho que minha defesa de quedas está ruim, eu trabalho na minha defesa de quedas. Se eu acho que é minha resistência, eu trabalho minha resistência, e por aí vai. O que eu acho que está mais fraco no meu jogo, sinceramente, é quando estou no chão trabalhando por cima. Aí, galera que está pensando em me enfrentar! É nisso que estou trabalhando bastante na minha academia, colocando o pessoal para baixo e controlando por cima. É isso o que eu faço de pior por enquanto. De todo resto, estou muito bem treinado: é muito difícil me segurar por baixo, meus botes por baixo são excelentes, me colocar para baixo também é bem complicado, também tenho bastante facilidade para entrar em queda por conta da minha velocidade. Na trocação, nem preciso falar muito: é a minha origem, vou estar sempre forte.
Existem alguns lutadores que estreiam no UFC, mas que somente atuam nos eventos realizados no Brasil. Você tem preferência em começar lutando por aqui para ganhar experiência ou já pensa em lutar no exterior, justamente para ficar mais conhecido em outros públicos?
Eu adoraria lutar em Las Vegas, por exemplo. É a capital das lutas e adoraria lutar por lá. Não tenho problema nenhum em lutar no Brasil – inclusive, a torcida brasileira é um show à parte, depositando aquela energia. Já fui córner do Rony Jason e vi que é maravilhoso, mas nada me impede de querer ir lá para fora. Muito pelo contrário: eu falo inglês e seria ótimo aparecer para um público diferente, até por conta de questões de patrocínio. As empresas lá fora podem investir um pouco mais do que as daqui, que ainda têm um pouco de preconceito, com uma mentalidade um pouco retrógrada com relação ao MMA. Enquanto isso não for solucionado, o melhor caminho seria lutar lá fora mesmo.
Sobre o fato de você falar inglês: o quão importante você acha que isso é para sua carreira, principalmente para um atleta que pensa em lutar no exterior?
Acho que isso vai ser sempre algo que agrega paralelo à minha imagem. Obviamente, não adianta nada você falar inglês e “entrar na porrada” [risos], mas o fato de falar inglês vai ser sempre um ponto positivo. Todo atleta deveria aprender a falar pelo menos o básico de inglês, porque a maioria dos tradutores não traduzem direito o que o atleta está falando. Não é nem por cometer erro de inglês, mas é que eles não falam tudo o que o lutador falou. Por exemplo, essas coletivas com o Conor McGregor e o José Aldo: o público só está sabendo de 70%, 60% do que o Aldo falou, porque às vezes ele falava frases muito longas e não dá para o tradutor ouvir aquilo tudo e ir certinho para o público. Perde-se muita informação, e o maior prejudicado é o próprio atleta. Eu aconselharia que todo mundo aprendesse a falar o mínimo, o básico de inglês para pelo menos passar as opiniões para o público. E o público gosta de ver pelo menos o atleta tentando falar inglês.
Voltando à sua jornada rumo ao UFC. Você falou há pouco sobre a importância do Minotauro em sua carreira. Quem você acha que pode ser seu grande aliado, seu “padrinho” que pode te ajudar a avançar nas negociações?
Acho que o Wallid [Ismail, presidente do Jungle Fight]. O Wallid é o cara, muito “correria”. Ele está sempre correndo atrás de tudo, está sempre ocupado. Nesse último Jungle, vi uma cena engraçada: ele estava almoçando com uma mão, todo enrolado, de boca cheia, e, com a outra mão, falando no telefone, combinando alguma coisa com alguém. O cara não para nem para comer. O Minotauro também. Ele tem muita influência, óbvio, e qualquer ajuda é válida, mas o Wallid “correria” já colocou vários outros atletas do Jungle para dentro do UFC e eu poderia ser mais um.
E em qual posição você se vê nessa categoria dos penas do UFC?
Eu vou entrar no fundinho, na humildade. Vou me experimentando. É normal do atleta achar que é o melhor, que ganha de todo mundo, porque a gente consegue enxergar furos nos oponentes. Então, a gente sabe que poderia explorar e que há chances de vitória. Mas o grande erro do atleta é achar que ele não tem esses furos. Eu sei que todo mundo quando vê nas minhas lutas dezenas, centenas de furos, e é ali que eles tentam atacar. É por isso que eu me estudo muito, como se eu fosse um oponente de mim mesmo, para saber o que preciso fazer para tapar meus furos. Só que essa categoria está muito movimentada, está bem complicada. O McGregor deu uma movimentada na categoria e está interessante.
Existe algum lutador dessa categoria que você admira, em quem se inspira?
O McGregor é um, vou te falar. Ele é um cara muito educado, muito inteligente. Às pessoas acham que ele fala besteira, mas olha onde as besteiras que ele falou o colocaram. Falam que ele é o novo Chael Sonnen, mas eu discordo. Ele não agrediu nenhuma nação, ele não está falando mal da persona do José Aldo, mas sim o atleta José Aldo. Ele é preciso como atleta e, mal ou bem, ele ganha as lutas. Ele é muito bom como atleta.
E como você projeta a sua carreira nos próximos anos? Como você se vê na categoria dos penas em um futuro próximo?
É muito complicado falar de previsão no MMA. Você faz uma previsão, um estudo, um planejamento e aí perde a próxima luta. E aí? Acabou tudo, foi tudo por água abaixo. Como alguns atletas dizem – o Ben Henderson vive falando, o meu foco é sempre a próxima luta. Uma coisa é o que eu acho que vai acontecer, e outra o que eu gostaria que acontecesse. O que eu acho que vai acontecer sempre depende do próximo resultado, mas o que eu gostaria que acontecesse é que eu entrasse no UFC, fizesse algumas lutinhas no card preliminar. Eu gostaria de sair muito rápido do card preliminar, e espero que com uma ou duas vitórias eu consiga provar o meu valor, e aí um pouco mais para frente, quem sabe um ano e meio ou dois, estar enfrentando o pessoal ranqueado. Aí eu já estaria em um patamar um pouco diferente.
Você falou que quer ganhar destaque e sair do card preliminar em pouco tempo. Hoje em dia nós vemos que, no UFC, conquistar vitórias não necessariamente garante a um atleta uma posição de destaque, já que o estilo de cada um também interfere. Como você vê este fator “espetáculo” na hora de desenvolver seu estilo de lutar?
A gente como atleta tende a pensar muito no resultado, até mesmo para se proteger. Mas eu, como pessoa e como amante do esporte, tenho certeza do que eu vou te falar agora: o resultado pode ser até menos importante do que o show. O show para a TV e para o público é mais importante do que o resultado. Às vezes, é mais interessante para o atleta arriscar um resultado para manter o espetáculo bom. Isso é uma coisa que vale a pena a longo prazo. Você vê que tem atletas brilhantes que, por perder uma ou duas lutas, são demitidos. Quer um bom exemplo: o Jon Fitch. Ele tinha um cartel ridiculamente regular, positivo, ganhava de todo mundo, um cara duro. Mas ele perdeu uma luta para o Demian Maia e foi demitido. Um lutador chato, insuportável de assistir às suas lutas. Horrível, horrível, ninguém queria ver uma luta daquele cara. É um lutador que o Dana White não podia colocar para fazer um main event, por exemplo. Isso é horroroso. Aí você vê um Clay Guida da vida. Quando que um cara desse vai ser demitido? Um Diego Sanchez? Nunca, nunca. Esses caras só param de lutar quando eles quiserem, e isso é muito importante.
Para acabar, deixe seu recado ao seus torcedores que acompanham suas lutas.
Queria agradecer à energia que todo mundo mandou para mim nessa luta. Sei que isso foi fundamental para a minha vitória. Obrigado à galera que acompanhou. O esporte não seria o que é se não fosse pelo público. Eu queria pedir que essa mesma energia que vocês depositaram para eu ganhar o cinturão fosse depositada na minha ida no UFC. Quem puder fazer barulho para me ajudar, por favor, fico agradecido.