Jiri Prochazka e Jamahal Hill se enfrentam no UFC 311. Foto: Montagem Super Lutas
A luta entre Jiri Prochazka e Jamahal Hill que acontece no card principal do UFC 311, neste sábado (18), na Califórnia (EUA), vem recheada de polêmicas nos bastidores. A começar pelo próprio Alex Poatan, que inflamou as coisas.
Assim que o confronto entre os dois ex-campeões meio-pesados (até 93kg.) foi anunciado, o brasileiro fez uma postagem nas redes sociais provocando o norte-americano. ‘Calma meu filho, passa nesse teste e o pai vai te dar uma segunda chance’, escreveu. (veja abaixo)
No mundo do MMA, o termo ‘pai’ é usado de forma humorística e simbólica para descrever um lutador que domina ou tem controle completo sobre outro lutador em uma luta ou em confrontos repetidos. Esse termo vem da ideia de que o lutador ‘dominador’ se comporta como se fosse uma figura de autoridade, quase mesmo como um pai que dá uma lição em seu filho. Quando um lutador vence outro de forma consistente ou em várias graças, os fãs ou até outros lutadores podem brincar contando que ele é o ‘pai’ daquele adversário.
Daí em diante, Jiri Prochazka e Jamahal Hill começaram a ‘Guerra Fria’ antes de subirem de fato ao octógono. Um criticando o desempenho do outro, tentando provar quem foi o ‘menos pior’ diante do brasileiro. Com Poatan assistindo tudo de camarote (e provavelmente orgulhoso da pequena chama acendida entre os rivais). Inclusive, o norte-americano chegou a falar que ‘o lutador tcheco que foi dominado por Poatan, enquanto ele foi pego’. O que não muda o resultado final da luta.
Agora neste sábado, Prochazka e Hill têm a chance de redenção. Promessa de lutão, já que ambos sabem que uma derrota pode complicar as coisas em uma das divisões mais equilibradas do Ultimate. Mas de coincidências, o tcheco e o norte-americano têm apenas o fato de terem sido campeões da categoria e serem ‘filhos’ de Poatan. Na prática, os dois lutadores são bem diferentes em suas personalidades.
Jiri Prochazka é o samurai do UFC. Foto: Reprodução/Instagram @ufc
Apelidado de ‘Samurai Tcheco’ por fãs e pela mídia, Jiri ostenta uma postura serena e controlada, tanto dentro quanto fora do octógono. A jornada do ex-campeão com o misticismo samurai começou há cerca de oito anos, quando seu treinador o presenteou com ‘O Livro dos Cinco Anéis’. A obra, um tratado sobre estratégia e artes marciais, especialmente kenjutsu (esgrima japonesa), despertou no lutador um fascínio que o acompanha até hoje.
O primeiro encontro com Poatan foi no dia 11 de novembro de 2023, no UFC 295, que aconteceu no ginásio do Madison Square Garden, em Nova York. O mundo do MMA vivia a expectativa de ver quem seria o novo dono do cinturão vago da categoria meio-pesado do UFC, deixado por Jamahal Hill após sofrer uma grave lesão. Ex-campeão dos médios (até 83,9kg.), o lutador paulista buscava ser campeão duplo da organização. No final do segundo round, Prochazka desabou após receber um cruzado limpo no rosto, dando a vitória por nocaute e também o título ao brasileiro.
A revanche aconteceu no dia 29 de junho de 2024, no UFC 303, em Las Vegas. Alex Poatan aceitou o desafio de assumir o protagonismo do evento após baixa de Conor McGregor. Após o tcheco ser salvo pelo gongo no primeiro round, o brasileiro conectou um chute alto limpo na cabeça no início do segundo round, levando o adversário a nocaute imediato. Prochazka teve seus planos de recuperar o cinturão frustrados mais uma vez.
Mesmo com as duas derrotas para Poatan, não se vê rancor nas palavras de Prochazka. O lutador tcheco sempre cita algum aprendizado que teve diante do brasileiro, numa postura humilde, típica de um samurai. E, mesmo esse ‘filho’ perdendo duas vezes, quer uma trilogia com o rival.
“Eu tirei o melhor disso. Não foi tanto sobre a performance naquela noite, mas sobre a preparação para aquela luta, e eu tive que mudar muitas, muitas coisas. Então, nos últimos meses, eu realmente trabalhei nisso, no que fazer, no que não fazer, no que não repetir. Então, aqui estou e pronto para a próxima luta [contra Poatan]. Cada derrota, cada vitória é o ponto principal da carreira. Então, cada batalha, não importa se é uma vitória. Vencer ou perder, sempre há a chance de tirar o melhor dessa experiência de cada luta”, dise o tcheco em uma de suas entrevistas.
Prochazka também é conhecido pelos treinamentos exóticos. A comunidade do MMA brinca que nunca vê o lutador tcheco dentro de algum ginásio fazendo sparring. Especialista em karatê, ele prefere algo mais espiritual, digno de filmes de artistas marciais do século passado. (assista abaixo)
Aos 32 anos, Jiri Prochazka é um lutador muito experiente, com um cartel de 30 vitórias, cinco derrotas e um empate. O lutador tcheco está no UFC desde 2020.
J. Hill após vitória sobre Glover Teixeira. Foto: Reprodução/Instagram
Diferente de Prochazka, Jamahal Hill é muito mais explosivo e provocativo. A vitória sobre Glover Teixeira diante de 13 mil pessoas na Jeunesse Arena, no Rio de Janeiro, fez com que o norte-americano ganhasse ainda mais a antipatia dos brasileiros. E que só piorou após Hill aplicar nocautes em Thiago Marreta Santos e Johnny Walker.
Mas a vingança verde e amarelo veio no dia 13 de abril de 2024, no UFC 300, em Las Vegas. Depois de Glover, o provocador Jamahal Hill prometia agora recuperar o cinturão diante de Alex Poatan. Mas foi o brasileiro que vingou o seu tutor. O campeão precisou de pouco mais de três minutos para ‘apagar’ o oponente com um cruzado limpo no queixo. ‘Sweet Dreams’ teve bons sonhos e Poatan manteve o título.
Após a derrota para Poatan no UFC 300, uma enxurrada de provocações tupiniquins começaram nas redes sociais do lutador. O jeito arrogante de Hill não poupa nem os fãs, que foram até desafiados por ele a entrar no octógono para enfrentá-lo.
Enquanto Prochazka diz ter tirado ensinamentos nas derrotas para Poatan, Hill sempre arruma uma desculpa para o revés ou então age de maneira desrespeitosa com o brasileiro. Caso mais recente foi em dezembro do ano passado, quando os dois lutadores protagonizaram uma confusão no Instituto de Performance do UFC e que quase terminou nas vias de fato… e sem luvas. (assista abaixo)
Hill tem uma boa visão de luta e é um nocauteador nato, tanto que isso lhe rendeu o apelido de ‘Sweet Dreams’ (bons sonhos, em português). O norte-americano já nocauteou dois brasileiros no UFC, Thiago Marreta Santos e Johnny Walker. Com as vitórias sobre esses dois mais Glover Teixeira, Jamahal poderia ser chamado de ‘Pai do Brasil’. Se não fosse por Alex Poatan…
Aos 33 anos, Jamahal Hill tem um cartel de 12 vitórias e duas derrotas. Na organização desde 2020, o norte-americano nunca teve uma sequência de derrotas, o que pode ser um aviso perigoso para Prochazka.
Magomed Ankalaev deve ser o próximo adversário de Alex Poatan. Foto: Reprodução/Instagram
A derrota é uma possibilidade que passa longe da cabeça dos dois ex-campeões meio-pesados. Mais que o cinturão, o segundo e terceiro colocados do ranking querem a chance de derrubar Alex Poatan. Seja pelo caminho do desafio ou da vingança.
Mas quem disse que uma caminhada rumo a um objetivo não possui barreiras? Neste caso, duas. Uma delas é o primeiro colocado do ranking, Magomed Ankalaev. O lutador da República do Daguestão continua invicto no UFC e provavelmente deve ser o próximo desafio de Poatan, que conseguiu evitar o rival até agora. Muitos o enxergam como um perigo ao ouro do brasileiro.
Jon Jones espera enfrentar Poatan na divisão dos pesados. Foto: Reprodução/UFC India
O outro fato é a vontade de Alex Poatan em subir para a divisão dos pesados (até 120,2kg.) para enfrentar o atual campeão e lenda do MMA Jon Jones. Perto de se aposentar, ‘Bones’ também vive um problema parecido com o do brasileiro que se chama Tom Aspinall. Muitos também acreditam que o campeão interino pode destronar o norte-americano.
Se será contra Poatan ou Ankalaev, Jiri Prochazka e Jamahal Hill ainda não têm essa resposta. Mas com certeza o vencedor do confronto do UFC 311 estará no páreo de novo.