Adeus a Maguila: De ‘jovem sonhador’ a um dos maiores boxeadores brasileiros da história

A. Maguila é um dos maiores nomes na história do boxe brasileiro. Foto: Reprodução/Instagram

A. Maguila é um dos maiores nomes na história do boxe brasileiro. Foto: Reprodução/Instagram

Os socos que ecoavam no ringue silenciaram. A dança dos pés, que um dia inflamava multidões, agora repousa. Mas a alma de Maguila, o guerreiro que nos inspirou com cada golpe, vai continuar em nossos corações. Hoje, nos despedimos de um gigante, mas celebramos uma vida dedicada à luta e à superação.

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Neste especial, o SUPER LUTAS relembra os momentos mais marcantes da carreira de um dos maiores boxeadores brasileiros de todos os tempos.

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Nascido em Aracaju, Sergipe, Maguila chegou a São Paulo ainda adolescente e enfrentou as dificuldades da vida na grande cidade. Ajudante de pedreiro, passou fome e dormiu em locais improvisados, como um caminhão abandonado. No entanto, foi no boxe que encontrou sua verdadeira paixão e a chance de transformar sua vida.

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A estreia nos ringues aconteceu em 1981, no tradicional torneio ‘Forja de Campeões’. A partir dali sua ascensão foi meteórica. Títulos nacionais e sul-americanos se sucederam, e Maguila se tornou um ídolo nacional. Suas lutas eram eventos que paravam o país, e a TV Bandeirantes, com Luciano do Valle nos comentários, transmitia as emoções de cada combate.

A noite em que Maguila assombrou o mundo

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O Ginásio do Ibirapuera, palco de tantas histórias do esporte brasileiro, testemunhou uma noite especial. No ringue, Maguila enfrentava o temido norte-americano James ‘Quebra-Ossos’ Smith. Um desafio à parte. O norte-americano era considerado um dos mais perigosos pesos pesados de agosto de 1987.

A estratégia para vencer o confronto era simples, mas exigia muita disciplina e controle emocional do brasileiro: bater, não dar distância e cansar o adversário. E assim se desenrolou a luta. A lenda, fiel ao plano, absorveu os golpes de Quebra-Ossos, esperando o momento certo para contra-atacar.

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A cada round, o brasileiro demonstrava uma resistência impressionante, enquanto o americano, visivelmente cansado, começava a perder fôlego. Já no quarto round, um direto de esquerda certeiro atingiu o rosto de Quebra-Ossos, que cambaleou e se agarrou às cordas.

Ao final dos 12 rounds, a vitória de Maguila por pontos foi unânime. A torcida brasileira, em êxtase, comemorava a conquista de seu ídolo. Com a vitória, Maguila não apenas consolidou seu status de um dos maiores pugilistas do país, mas também se projetou para o cenário internacional, alcançando os primeiros lugares do ranking mundial.

Um duelo contra outro gigante

Maguila enfrentou George Foreman. Foto: Reprodução/Instagram

15 de julho de 1989. A data ecoa nos anais do boxe brasileiro como um soco no estômago. Ou, no caso, no rosto. Naquele dia, o ídolo nacional subiu ao ringue para enfrentar Evander Holyfield, em luta que parou o país. A promessa da maior vitória da carreira, porém, transformou-se em um pesadelo para o brasileiro, que sucumbiu ao poder do norte-americano no segundo round.

O aracajuano, embalado por uma sequência de 18 vitórias consecutivas, chegou à disputa com a moral nas alturas. Sua ascensão meteórica havia sido marcada por triunfos expressivos, como a vitória sobre o temível James ‘Quebra-Ossos’ Smith. Contudo, diante de Holyfield, a história tomou outro rumo.

No primeiro round, Maguila acertou um jab certeiro em Holyfield. Parecia que a luta estava sob controle. Mas o tal ‘controle’ o fez mudar a estratégia, que estava funcionando. Foi, então, para cima. A pressão constante apareceu, o nocaute brutal também.

O brasileiro, impulsionado pela euforia e pela vontade de nocautear o adversário, abriu mão de sua guarda e expôs sua defesa. Holyfield, com sua experiência e precisão, aproveitou a oportunidade e desferiu um golpe devastador que apagou as luzes de Maguila.

A derrota para George Foreman

Maguila enfrentou Evander Holyfield. Foto: Reprodução/Instagram

O calor de Las Vegas era quase tão intenso quanto a expectativa que pairava no ar naquela noite de 16 de junho de 1990. No ringue do Caesar’s Palace, um dos palcos mais famosos do boxe mundial, Adilson Maguila Rodrigues se preparava para encarar um dos maiores pugilistas de todos os tempos: George Foreman. Aos 24 anos, Maguila carregava consigo não só a esperança de todo um país, mas também a vida de outra pessoa: a de sua esposa, Irani, grávida de sete meses.

A tensão era palpável. A cada round, a ansiedade crescia tanto dentro quanto fora do ringue. O resultado, contudo, não foi o esperado: uma brutal derrota por nocaute no segundo round.

Irani, com a pressão arterial elevada, foi levada para um local mais arejado, de onde assistiu, impotente, à brutalidade do combate.

“Quando ele acertou o Adilson, o Júnior me chutou na barriga. Pegou minha costela, foi incrível, um movimento estranho”, relembrou Irani, que esteve com o pugilista até o último momento de sua vida.

Frases marcantes de Maguila

Em um país apaixonado por boxe, Maguila se tornou um ícone. Suas lutas eram eventos nacionais, e seus bordões, como “Onde a mão de peso pesado pega, onde a mão bate, não cresce cabelo!”, entraram para o imaginário popular.

Outro ponto alto nas narrativas sobre Maguila era sua comparação entre o boxe e o trabalho braçal. O ex-boxeador, que já foi pedreiro, costumava dizer que erguia um muro inteiro em um dia e que, portanto, não se intimidava com a pressão de uma luta.

“Se o público nos ginásios me deixa impressionado nas lutas? Olha, eu fui pedreiro, erguia um muro em um dia só, com muita gente passando na rua. Então, você acha que eu vou me preocupar com quem paga para me olhar lutando?”

Obrigado, Maguila. Descanse em paz, campeão!

 

Publicado por
Igor Ribeiro