ESPECIAL: Antes da fama, Anderson Silva se destacava por determinação e bom humor

Em bate-papo com o SUPER LUTAS, ex-colega de treinos Cristiano Marcello contou que o Spider era o rei das imitações e muito mais

Anderson (centro) ficou na Chute Boxe até 2002. Foto: Reprodução

Anderson (centro) ficou na Chute Boxe até 2002. Foto: Reprodução

Talvez seja impensável hoje em dia que Anderson Silva já tenha andado pelas ruas sem ser reconhecido, que pudesse ir ao shopping center sem causar alvoroço ou mesmo que fosse reconhecido por outra habilidade que a mostrada com as luvas dentro de um ringue de MMA. Mas a vida do Spider era assim de 2006 para trás, quando ele ainda não tinha estreado no UFC.

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Às vésperas da volta de Anderson Silva ao octógono, que diante de Nick Diaz no próximo sábado (31), um ano e um mês após após a grave fratura sofrida pelo ex-campeão, o SUPER LUTAS traçou um perfil do Spider antes da fama, em um bate-papo com o ex-lutador Cristiano Marcello, companheiro de Anderson por dois anos na Chute Boxe em Curitiba (PR).

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Segundo Cristano, apesar de ainda não possuir o mesmo destaque de outros nomes da academia naquela época, como o campeão do PRIDE Wanderlei Silva, Anderson já se destacava, especialmente por sua dedicação. “O Anderson era super dedicado como atleta e como aluno. Muito inteligente e que sempre perguntava. Enquanto todo mundo depois do treinamento tomava banho e ia pra casa, ou ele vinha tirar dúvidas ou pegava um colchão para chutar ou uma manopla. Ele sempre fazia algo a mais. Se via que a vontade de ser o que ele é hoje era imensa”, contou.

Anderson (esq.) ao lado de C. Marcello (dir.). Foto: Reprodução/Facebook

Anderson ao lado de C. Marcello. Foto: Reprodução/Facebook

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Além da força de vontade, Anderson também se destacava por outra característica: seu senso de humor. Segundo Cristiano, que também atuou pelo PRIDE e encerrou sua carreira no UFC, o Spider sempre teve um perfil brincalhão e divertia os companheiros, especialmente com suas imitações. “Ele sempre foi um cara muito engraçado e sempre imitou com perfeição os outros. E divertia a galera imitando os outros, o jeito da galera. Ele tinha essa mania. O cara era uma figura…”, lembrou.

Hoje líder de sua própria equipe, a CM System, Cristiano estreou no esporte na mesma noite de Anderson e relembrou a primeira edição do torneio “Brazilian Freestyle Circuit”, na qual ambos venceram duas lutas no mesmo card. “Eu tive meu primeiro contato com o Anderson nesse torneio, ele enfrentou meu primo, Fabrício Morango (também ex-lutador do UFC). (…) Foram duas lutas na mesma noite. Na época, era briga de estilos. Nos tinham passado que ele era um cara trocador, mas no final das contas ele já era bem completo e tinha finalizado o primeiro adversário. A gente viu ele ali e depois, na final, ele lutou e ganhou do Morango. Eles fizeram uma guerra, mas ele se mostrou um cara muito completo”, analisou.

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Confira o bate-papo de Cristiano Marcello com o SUPER LUTAS:

Após pendurar as luvas, C. Marcello (à frente) agora comanda a academia CM System. Foto: Reprodução

Após pendurar as luvas, C. Marcello (à frente) agora comanda a academia CM System. Foto: Reprodução

Super Lutas: Quando você e o Anderson se conheceram?

Cristiano Marcelo: Bom, eu e o Anderson nos conhecemos em 2000, quando eu cheguei a Curitiba pra treinar na Chute Boxe. Tive a oportunidade de conviver com ele, treiná-lo e treinar junto com ele por dois anos, até a saída dele da Chute Boxe. Ah, desculpa, antes disso eu já tive um primeiro contato com ele neste torneio (Brazilian Freestyle Circuit), quando eu estreei e ele estreou no MMA, ele lutou contra o meu primo Fabrício Morango e esse foi meu primeiro contato com ele. Aí sim, logo após, em 2000, nos reencontramos na Chute Boxe, que foi basicamente quando tive contato direto com ele.

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SL: Como ele era no dia a dia antes de ficar mundialmente famoso e como era a convivência na academia?

CM: O Anderson era super dedicado como atleta e como aluno. Muito inteligente e que sempre perguntava. A fome de aprender dele era insaciável. Enquanto todo mundo depois do treinamento tomava banho e ia pra casa, ou ele vinha tirar dúvidas ou pegava um colchão para chutar ou pegava um colchonete para chutar, uma manopla pra fazer ou uma bolinha para ficar esquivando. Ele sempre fazia algo a mais. Se via que a vontade de ser o que ele é hoje era imensa.

Anderson (dir.) ao lado dos companheiros de Chute Boxe, equipe liderada por Rudimar Fedrigo (centro). Foto: Reprodução/Instagram

Anderson (dir.) ao lado dos companheiros de Chute Boxe, equipe liderada por Rudimar Fedrigo (centro). Foto: Reprodução/Instagram

SL: Na época do PRIDE, outros lutadores eram os maiores nomes da Chute Boxe e o Anderson chegou a passar por alguns momentos difíceis no Japão, já havia em vocês a percepção de que ele poderia se tornar o fenômeno que acabou se tornando?

CM: Na época, era mais o Pelé (Landi), o Assuério (Silva), o Wanderlei (Silva)… Que eram os caras que estavam no PRIDE. Mas, mesmo assim, se via sempre que ele tinha muito talento. Isso era notório. Tanto que ele chegou, foi pro Japão e fez duas lutas excelentes lá. Ele pegou o Alex Stiebling, que estava enfileirando tudo que era brasileiro, e foi lá, abriu a cara do cara e o nocauteou. Depois pegou o Carlos Newton, que é um cara excelente, depois também teve o (Alexander) Otsuka. Meu irmão, ele enfileirou uma galera… Via-se que ele tinha muito potencial e podia chegar com certeza. E isso lutando na categoria até 93 kg, porque não tinha a categoria até 84 kg. Na época só tinha 93 kg e peso pesado.

SL: Havia alguma mania, hábito ou costume que o Anderson tinha naquela época e que era marcante pra vocês que conviviam com ele? Algo que você se lembre ate hoje.

CM: Ele sempre foi um cara muito engraçado e sempre imitou com perfeição os outros. E divertia a galera imitando os outros, o jeito da galera. Ele tinha essa mania. O cara era uma figura…

Anderson em foto da época com a família. Foto: Reprodução

Anderson em foto da época com a família. Foto: Reprodução

SL: Você e o Anderson estrearam juntos no MMA, em um torneio em 97. Como foi esse dia e como você se lembra da participação de vocês?

CM: Lembro sim. Foram duas lutas na mesma noite. Na época, era briga de estilos. Nos tinham passado que ele era um cara trocador, mas no final das contas ele já era bem completo, tinha um chão bom e até tinha finalizado o primeiro adversário. A gente viu ele ali e depois, na final, ele lutou e ganhou do Morango. Eles fizeram uma guerra, mas ele se mostrou um cara muito completo. Então, eu tinha a lembrança dele. E o que impressionou é que ele era um cara muito bom. Porque antigamente o que se via era caras do Rio de Janeiro ou São Paulo e ele apareceu ali, e apareceu muito bem.

SL: Hoje continua ligado ao esporte, mas na administração da CM System, em uma rotina diferente do Anderson, que segue em atividade e lutando. Apesar dessas diferenças, vocês ainda mantêm contato? Você teve a oportunidade de conversar com ele antes desta luta contra o Nick Diaz?

CM: Então, nesse mundo, a gente acaba tendo muito contato com as pessoas no dia a dia quando está trabalhando junto, na mesma academia. A vida do Anderson tomou uma vertente e a minha tomou outra, apesar de estarmos no mesmo meio. E apesar de termos até lutado no mesmo evento, o UFC, não tenho muito contato com ele hoje em dia. De vez em quando eu encontro pessoas ligadas a ele, como o Joinha (Jorge Guimarães, empresário), que é meu amigo particular, então sempre nós trocamos uma ideia a respeito. E é difícil hoje você estar no meio do MMA e não falar do Anderson, que é um formador de opinião, o topo da cadeia alimentar dentro do esporte. Mas ele é um cara que eu sempre torço, por ter acompanhado o começo dele, saber da história de vida dele. Eu fico muito feliz por ele ter chegado onde chegou, foi porque ele mereceu mesmo. Lógico que ninguém chega a lugar nenhum sozinho, mas a maior parte foi por ele mesmo. A última vez que nos falamos pessoalmente foi quando lutamos juntos no UFC Rio 3 (em outubro de 2012), mas é um cara que eu sempre torço, independentemente de estarmos convivendo no dia a dia ou não. Eu torço pra que a volta dele seja um sucesso, porque hoje em dia a responsabilidade dele não é só por ele ou pelos que estão ao redor, é por todo um esporte. Ele é um ícono e a vitória dele é a vitória do esporte. Então, tomara que ele dê a volta por cima… Volta por cima, não, ele não precisa mais disso. Mas tomara que ele vá lá e faça o trabalho dele da melhor maneira.

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