Nascida e criada em periferia de Minas Gerais, Stephanie Luciano transformou a adversidade em combustível para alcançar seus sonhos. A lutadora, que estreia no UFC Vegas 95 deste sábado (10) contra a compatriota Talita Alencar, superou uma infância marcada pela pobreza e a proximidade com o crime para chegar ao maior evento de MMA do mundo.
Em entrevista exclusiva ao SUPER LUTAS, a ‘Rondinha’, como é conhecida, relembrou os desafios que superou para chegar até aqui. A troca de pulseirinhas e paçoca na escola para pagar o ônibus e o início promissor no jiu-jítsu foram apenas alguns dos obstáculos que a mineira precisou superar.
“Perdi meu pai com 13 anos de idade. Isso mudou a mim e minha família. Minha mãe, depois de um tempo, teve relacionamento abusivo. Eu era uma adolescente, via isso tudo acontecendo, não conseguia entender direito. Fiquei muito na rua por não querer ficar dentro de casa. Sou da comunidade, da favela. Querendo ou não, vende droga na porta da minha casa. Poderia ter sido um caminho e ter encontrado o jiu-jítsu na época foi muito bom”, revelou Stephanie.
A paixão pelas artes marciais a ajudou a encontrar um propósito e a canalizar toda a energia negativa que vivia. Com apenas 13 anos, Stephanie começou a treinar jiu-jitsu e, dois anos depois, ingressou ao MMA.
“Me apaixonei pelo jiu-jítsu e foi ali que gastei toda a energia de ruim que estava passando no momento. Quando comecei, pagava-se 30 reais para treinar. Eu não tinha o dinheiro. Conversei com meu mestre para montar e desmontar tatame e ter uma oportunidade. Eu só gostaria de continuar. Treinei sem quimono, sem faixa. Continuei, o projeto acabou e, depois, vi o que era treinar mesmo para competição em outra categoria. Sofri demais no início pelo nível e falei que era aqui que queria ficar”, completou.
A determinação de Stephanie chamou a atenção de Dana White. Apesar do empate diante de Talita Alencar, o presidente do UFC a convidou para integrar o elenco da organização. O duelo é, até hoje, o único que acabou em empate na história do Contender Series.
“Ele disse que sou uma garota especial. E eu me sinto uma garota especial mesmo. Sinto que isso aqui é uma garota da periferia, que não tinha um real, que está lutando por dólar. Estou feliz demais de estar aqui. A oportunidade é bizarra. Quando vi o empate (no Contender), pensei que não daria certo. A sensação foi incrível, de ver o Dana White falando de mim. Aquilo é o que eu amo fazer. Vou sempre me doar muito. Não esperem menos que isso”, afirmou a lutadora.
A estreia no UFC demorou mais tempo que ela esperava. A adversária inicial, Shauna Bannon, se lesionou e foi substituída por Julia Polastri. Pouco antes da luta, Stephanie também contraiu dengue e sofreu com uma lesão no joelho.
“Treinei com tonteira, dores de cabeça e estômago. Fui no médico, tomando remédio. Estava chorando no treino. Com dengue, é um caso que não tem como. Fiquei mal, tive alergia, febre e não queria sair da cama”, revelou.
Neste sábado, a brasileira enfrenta a compatriota Talita Alencar, uma velha conhecida.
“Estou pronta e preparada. Vai ser show. Não percam sábado agora. Vamos. É porrada nela”, prometeu Stephanie.
Aos 24 anos, Stephanie Luciano soma um cartel de cinco vitórias, uma derrota e um empate. Ela se destacou no ‘Jungle Fight’, organização em que foi campeã, e também teve passagem por LFA.