No UFC 296, que acontecerá no próximo sábado (16), o brasileiro Alexandre Pantoja subirá no octógono montado na T-Mobile Arena, em Las Vegas (EUA), para fechar com chave de ouro a temporada que marcou a grande mudança de patamar da sua vida pessoal e profissional. Se há pouquíssimo tempo, o campeão peso mosca (até 56,7kg) completava renda trabalhando em carro de aplicativo, o atleta tupiniquim agora é sério candidato ao prêmio de ‘Lutador do ano’ no Ultimate.
No início de sua carreira, Pantoja começou a se acostumar com ‘dois empregos’ para poder custear os altíssimos gastos de ser um atleta profissional de MMA. Para bancar seus treinamentos e tudo o que envolve a preparação para uma luta, Alexandre já trabalhou como garçom, pedreiro e até mesmo marinheiro.
“Eu já trabalhei como garçom, já trabalhei como pedreiro, como marinheiro de barco. E todos os trabalhos que eu tive foram pra sustentar o meu treinamento. Sabia que não ia virar um garçom ou marinheiro, sabia que eu era um lutador. Eu nem lembro quanto eu ganhava, nunca foi pelo dinheiro, foi pra sustentar meu treinamento. Fui marinheiro bem novo, com 15, 16 anos, eu puxava a garateia e fazia maior firula como se fosse um treinamento puxando o barco. Tudo que eu fiz na vida foi pra fazer esse trajeto”, disse Pantoja em entrevista à ‘ESPN’.
Cansado da difícil rotina no Brasil, Alexandre se mudou para os Estados Unidos em busca de melhores condições de treino e sonhando em proporcionar uma vida melhor para sua família. Entretanto, mesmo treinando na American Top Team, uma das maiores academias do mundo, Pantoja seguiu fazendo bicos para completar renda e mesmo às vésperas de umas das lutas mais importantes precisou trabalhar como motorista de aplicativo para não correr o risco das contas atrasarem.
Em agosto de 2021, o mundo ainda vivia sob a pandemia da Covid-19, Alexandre Pantoja era terceiro colocado no ranking peso mosca mas ainda sofria com a grana curta. De compromisso marcado contra Brandon Royval, Pantoja ainda completava renda trabalhando como motorista de aplicativo e contou o susto que passou quando ficou doente e temeu que tivesse que sair da luta e perder a esperada bolsa.
“Quando eu volto para os EUA durante (a pandemia) o COVID, eu faço uma luta, consigo dar entrada na minha casa, mas daí a grana apertou muito forte. E eu trabalhei de Uber durante um tempo, minha esposa trabalhou de empregada também. Isso foi há duas lutas. A gente via isso como algo que teria que ser feito. Uma semana antes de eu lutar com o Brandon Royval eu estava fazendo entrega de Uber porque eu só tinha um mês pra pagar financiamento, carro…peguei uma chuva sinistra, fiquei gripado, pedi a Deus que não fosse COVID, fiz minha pesagem e já estava certo o dinheiro da bolsa. Quando eu bati o peso e sabia que tinha ganhado o dinheiro da bolsa e uma semana antes eu estava ralando pra ganhar US$ 100 no dia e na semana eu fiz US$ 100 mil, eu agradeci muito a Deus”, contou um emocionado Pantoja.
Depois da vitória sobre Royval, Pantoja bateu Alex Perez na sequência e chegou ao Olimpo do esporte no último mês de julho. Com o triunfo na decisão dividida sobre Brandon Moreno, Alexandre conquistou o cinturão peso mosca do UFC e ainda no octógono emocionou a todos com uma ‘alfinetada’ no pai, que foi ausente durante toda sua vida.
“Nossa, o Moreno é um cara muito duro, eu não esperava que ele fosse ser tão duro assim. Mas eu trabalhei tanto, treinei tão duro, comecei a treinar aos 12 (anos) e agora estou com 33. Trabalhei muito duro por tudo o que eu tenho na vida, então, trabalhei muito duro nesses últimos dois anos, trouxe minha família para os Estados Unidos, vim fazer meu camp na American Top Team. Deixei tudo para trás: minha mãe e meu irmão que sempre cuidaram de mim…E agora, pai? Você tá orgulhoso de mim?”, perguntou Pantoja diante do público em Las Vegas.
Todo sacrifício foi plenamente recompensado. Alexandre Pantoja hoje pode viver exclusivamente da sua profissão e lutará no UFC 296 para seguir defendendo o seu cinturão, o seu legado e o direito de cada pessoa lutar pelos seus sonhos.