ESPECIAL TUF: com Brasil, Austrália e China, programa desbrava o mundo

Brasil está em sua terceira temporada do TUF. Foto: Divulgação

Brasil está em sua terceira temporada do TUF. Foto: Divulgação

Pode-se dizer que a trajetória das edições do TUF é comparável à trajetória do próprio UFC. Depois da criação, estabilização e sucesso do programa dentro dos Estados Unidos, o foco estava voltado à expansão internacional, sobretudo em Europa, América do Sul e Ásia, mercados nos quais o reality show poderia ser utilizado como ferramenta de popularização.

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Para cumprir este objetivo, o UFC decidiu por dar passos curtos e cautelosos. Inicialmente, em 2008, Rodrigo Minotauro foi apontado como treinador na oitava temporada, sendo o primeiro estrangeiro a ocupar tal posição. Na edição seguinte, meses depois, a batalha entre as equipes foi traçada com base na nacionalidade dos lutadores e técnicos, colocando frente a frente representantes dos Estados Unidos e Reino Unido.

Ironicamente, o presidente do UFC, Dana White, foi o primeiro a criticar o formato da edição. Para ele, o confronto entre Estados Unidos e Reino Unido colocou em segundo plano o objetivo principal do programa. “Eu disse desde o primeiro dia que eu odiei a ideia”, revelou, na época, em entrevista ao jornal inglês “The Sun”. “Eu não gosto disso. Não se trata de Estados Unidos x Reino Unido. Estamos procurando pelo melhor lutador do mundo, independentemente se ele for inglês, croata ou brasileiro”, disparou.

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Michael Bisping, campeão da terceira temporada do reality show como lutador, foi escolhido para ser o treinador principal da equipe da Terra da Rainha. Do outro lado, Dan Henderson garantiu o posto de comandante do time norte-americano ao bater o ex-campeão dos médios, Rich Franklin, em combate na luta principal do UFC 93, em janeiro de 2009. Apenas a seletiva da equipe do Reino Unido foi filmada no exterior, em Widnes, a 300 km de Londres, sendo que o restante da atração foi realizado na tradicional casa do TUF, em Las Vegas.

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Entre os lutadores, a superioridade ficou do lado europeu. O inglês Ross Pearson derrotou seu compatriota Andre Winner para vencer entre os leves, enquanto que, nos meio-médios, James Wilks finalizou o norte-americano DaMarques Johnson para se sagrar campeão. No tradicional confronto entre os treinadores, no entanto, a história não se repetiu: no UFC 100, em julho de 2009, Henderson bateu Bisping em um dos nocautes mais impressionantes da história recente do MMA.

Primeira edição do TUF 100% internacional é brasileira

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Belfort e Wanderlei comandaram a primeira temporada do TUF Brasil. Foto: Divulgação/UFC

A internacionalização completa do TUF aconteceu, porém, somente alguns anos mais tarde. O sucesso das edições do UFC realizadas no Rio de Janeiro incentivou a organização a escolher o Brasil como sede do primeiro reality show filmado inteiramente fora de Las Vegas. O anúncio oficial foi feito em janeiro de 2012, com as seletivas e filmagens acontecendo nos meses seguintes. Os nomes escolhidos para comporem o elenco contavam com veteranos do MMA, como Delson “Pé de Chumbo” e Rodrigo Damm, e lutadores iniciantes, como Hugo “Wolverine”.

Para treinarem as equipes, o UFC investiu em duas figuras conhecidas do grande público. Wanderlei Silva e Vitor Belfort comandariam times entre os penas e médios, e, de quebra, fariam a revanche do combate realizado em 1998, que teve vitória de Belfort. Os planos, aliás, eram ambiciosos: a intenção era fazer o TUF Brasil Finale em um estádio de futebol em São Paulo, também tendo, na mesma noite, a revanche entre Anderson Silva e Chael Sonnen pelo título dos médios.

A produção do programa, bem como as filmagens, em São Paulo, foram realizadas por uma equipe totalmente independente em relação ao TUF original, ficando ao encargo da produtora Floresta. Alguns elementos foram mantidos, como a decoração da casa e da academia onde acontecem as lutas, além das visitas de atletas convidados, como Anderson Silva, Rodrigo Minotauro, Júnior Cigano e José Aldo.

Na prática, o TUF Brasil não conseguiu repetir o papel desempenhado pelo programa em suas primeiras edições nos Estados Unidos. Se lá o projeto foi fundamental para popularizar o esporte e conquistar mais fãs, no Brasil o programa foi acompanhado via de regra por pessoas que já eram aficionadas por MMA. Uma das causas disso é o fato de que os episódios eram transmitidos em horários ingratos, na madrugada de sábados para domingos.

Dentro do octógono, no entanto, a ação não deixou a desejar. Combates movimentados e técnica de alto nível consagraram os lutadores, especialmente os integrantes da equipe de Belfort, que emplacaram três dos quatro finalistas (Daniel Sarafian, Cezar Mutante e Godofredo Pepey, contra Rony Jason da equipe de Wanderlei).

No entanto, o evento que marcaria as finais do programa, mais o confronto entre os treinadores, foi um balde de água fria. Os planos de realizar as lutas em um estádio de futebol não foram adiante, de modo que as lutas foram transferidas para o ginásio do Mineirinho, em Belo Horizonte. Já a luta entre Anderson Silva e Chael Sonnen foi jogada para o UFC 148, em Las Vegas. A quase um mês do evento, Belfort teve de desistir de sua luta contra Wanderlei por conta de uma fratura na mão sofrida durante os treinamentos; Sarafian também se machucou e não pôde fazer a final dos médios, sendo substituído pelo semifinalista Serginho Moraes.

Jason e Mutante dominaram seus adversários e se sagraram campeões do programa, vencendo suas lutas pela decisão unânime dos juízes. Na luta principal da noite, Wanderlei chegou perto de nocautear o substituto de Belfort, Rich Franklin, mas acabou perdendo também na pontuação.

Ingleses e australianos também ganham espaço no “TUF Smashes”

Poucos meses depois da primeira edição do TUF Brasil, o UFC decidiu fazer uma nova edição fora dos Estados Unidos. Foi o The Ultimate Fighter: The Smashes, que contou com lutadores do Reino Unido e Austrália, filmado inteiramente em Sydney. A rivalidade dos países foi alvo da aposta do UFC, que buscava ampliar ainda mais sua participação dentro da Oceania. O nome “The Smashes” é um trocadilho à competição de críquete “The Ashes”, realizada anualmente entre Austrália e Reino Unido.

Pearson (esq.) e Sotiropoulos (dir.) foram os comandantes do TUF Smashes. Foto: Divulgação

Contudo, o nível de popularidade dos treinadores da segunda temporada internacional do TUF não foi mantido em relação à primeira. George Sotiropoulos e Ross Pearson, antigos participantes do TUF, foram os eleitos para comandarem, respectivamente, os times australianos e britânicos. A escolha das equipes era limitada a atletas de no mínimo 21 anos de idade, capazes de atuarem entre os leves ou os meio-médios, além de já terem um cartel reconhecido com no mínimo duas vitórias entre três lutas no MMA profissional.

A edição do TUF Smashes foi marcada pela intensa provocação, em sua maioria de forma amistosa, entre as equipes. Nem mesmo os treinadores escaparam das provocações. O Reino Unido conseguiu emplacar três dos quatro finalistas (Norman Parke, Colin Fletcher e Brad Scott), sendo que Robert Whittaker representou os australianos na decisão. O evento que consagrou os campeões foi realizado em dezembro de 2012, em Gold Coast, na Austrália. Entre os meio-médios, Whittaker superou Scott na decisão unânime dos juízes, e, nos leves, Parke superou Fletcher. No combate entre os técnicos, a vantagem foi britânica: Pearson derrotou Sotiropoulos por nocaute técnico no terceiro round.

TUF Brasil 2: mais uma vez, lesão atrapalha os planos da final

Mantendo os planos de realizar uma edição do TUF Brasil por ano, a segunda temporada no país contou com algumas mudanças em relação à inaugural. Em vez de duas categorias de peso, desta vez, apenas atletas dos meio-médios marcaram presença, sendo que seriam 14, e não 16, os lutadores a entrarem na casa. Dois dos lutadores que perdessem nas oitavas-de-final se enfrentariam como uma repescagem, com o vencedor ganhando nova oportunidade no programa. Os treinadores foram Rodrigo Minotauro e Fabrício Werdum.

O TUF Brasil 2 também foi marcado por algumas polêmicas e controvérsias envolvendo os lutadores e até mesmo os treinadores. Logo nas oitavas-de-final, Viscardi Andrade, lutador do time Werdum, derrotou Thiago Jambo por nocaute e, em seguida, provocou Minotauro: “Essa é para você!”, gritou. Alguns episódios seguintes viram os lutadores exagerarem em brincadeiras.

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No octógono, a equipe de Minotauro levou a vantagem e escalou três dos quatro semifinalistas (William Patolino, Leonardo Santos e Santiago Ponzinibbio, contra Viscardi Andrade). Assim como aconteceu na categoria dos médios do TUF Brasil 1, a final da segunda temporada também foi prejudicada por lesão. Ponzinibbio não pôde enfrentar Patolino na decisão após fratura na mão, sendo substituído por Santos, a quem havia batido na semifinal.

Final do TUF Brasil 2 aconteceu em Fortaleza. Foto: Divulgação/UFC

No evento que marcou a decisão do TUF, além do confronto entre os treinadores, em Fortaleza, Santos levou a melhor ao finalizar Patolino no segundo round, conquistando o título da temporada. Entre os treinadores, Werdum foi melhor e também finalizou Minotauro no segundo período.

Em entrevista recente ao SUPER LUTAS, Minotauro afirmou ter gostado da experiência em treinar os atletas brasileiros. “Foi a segunda temporada que eu fiz, já que eu tinha feito antes nos Estados Unidos. Você não consegue treinar o cara em três meses, mas consegue motivar, bolar uma estratégia certa. A disciplina do lutador brasileiro é diferenciada, já que geralmente o brasileiro vem das artes marciais, enquanto que o norte-americano é mais atleta. Fica mais fácil de trabalhar aqui no Brasil, porque os garotos seguem mais o que a gente passa. Mas também é bacana trabalhar tanto aqui quanto lá”, comparou Minotauro.

Mesmo que a temporada tenha sido marcada pelas brincadeiras dos atletas, Minotauro disse que não foi essa a impressão passada durante as gravações. “A grande maioria das brincadeiras veio por parte da equipe do Werdum, que é um cara mais brincalhão. O nosso time reagia, mas eu não achava legal. Nosso país é de terceiro mundo, então não gostei de ver guerra de fruta, um cara jogando fruta no outro. Não pode haver desperdício de alimentos assim. Fora isso, não teve nada de mais. Foram 106 dias de treinos, mas quatro de brincadeiras, mas a TV quis mostrar as brincadeiras porque é algo diferente”, opinou.

Expansão do TUF conta com uma edição para chinês ver

O passo mais inusitado dado pelo UFC na expansão internacional do The Ultimate Fighter veio em 2013, com a primeira temporada realizada em território chinês. As seletivas para os atletas locais aconteceram em Pequim, Cingapura e Macau, com lutadores dos leves, penas e meio-médios. No fim, apenas as duas últimas foram escolhidas.

Uma mudança considerável no formato do TUF foi visível nesta edição. Cung Le, atleta norte-americano de origem vietnamita, atuou na temporada como conselheiro geral, algo semelhante ao feito por Dana White nas edições regulares.

Primeira edição do TUF China foi realizada em 2013. Foto: Divulgação

Os treinadores das equipes seriam Tiequan Zhang, peso leve do UFC, e Hailin Ao, que nem mesmo chegou a atuar no cenário do MMA internacional. Porém, no quarto episódio da temporada, Ao foi obrigado a abandonar as gravações alegando problemas pessoais. Assim, a temporada ficou com apenas uma equipe, coordenada por Zhang, Le e os treinadores auxiliares.

Justamente por se tratar de um público não muito habituado às lutas de MMA, a dinâmica do TUF China 1 teve, em alguns momentos, diferenças em relação ao visto habitualmente. Em várias oportunidades havia a necessidade de se explicar as regras básicas do MMA, bem como situar os espectadores com relação ao que representa o UFC neste meio.

Na categoria dos meio-médios, Lipeng Zhang bateu Wang Sai na final, conquistando o título. Já entre os penas, a final não aconteceu: Jianping Yang não pôde participar da luta devido a uma lesão sofrida pouco antes do evento, em Macau. O combate deverá ser remarcado para um próximo evento a ser realizado em breve na Ásia.

TUF Brasil 3: Wanderlei, Sonnen, Isabel e Hortência

Insatisfeita com a baixa audiência da segunda temporada do TUF Brasil, o UFC decidiu inovar para a terceira edição. Em vez de dois treinadores brasileiros, desta vez um norte-americano foi convocado. E ele não poderia ser mais polêmico: Chael Sonnen comanda um dos times ao lado de seu desafeto Wanderlei Silva.

A escolha dos treinadores por si só já causou rebuliço, já que Sonnen é conhecido por suas provocações e Wanderlei, por não levar desaforo para casa. Segundo o que já foi divulgado, as gravações foram repletas de momentos intensos, sendo que, em um deles, os dois treinadores chegaram às vias de fato – algo inédito nos TUFs até então.

Porém, um ponto que causa intriga nos fãs é a escolha de Isabel Salgado e Hortência Marcari (ex-jogadoras de vôlei e basquete, respectivamente) como treinadoras auxiliares de Wanderlei e Sonnen. As duas participaram do programa desde as seletivas e implantaram técnicas motivacionais e atividades de grupo para unir os atletas dos times.

A edição conta com atletas da categoria dos médios e dos pesados. Esta é, aliás, apenas a terceira vez que lutadores acima de 93 kg participam de uma edição do TUF.  O programa, gravado em janeiro, terá sua final em maio, no dia 31, no Ginásio do Ibirapuera, em São Paulo.

Publicado por
Bruno Ferreira
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