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ESPECIAL TUF: o surgimento da ideia que mudaria o destino do UFC

Evans (esq.) e Griffin (dir.): dois lutadores do TUF em disputa de cinturão do UFC. Foto: Divulgação/UFC

Evans (esq.) e Griffin (dir.): dois lutadores do TUF em disputa de cinturão do UFC. Foto: Divulgação/UFC

Pode soar estranho para os que estão no meio do MMA há pouco tempo, mas em 2005 o UFC vivia momentos de instabilidade financeira e dificuldades em sua administração. Com investimentos cada vez maiores, e retorno questionável, os irmãos Fertitta, sócios da ZUFFA (empresa proprietária da organização), chegaram a cogitar a venda do Ultimate. O presidente Dana White não se cansa de afirmar que o reality show The Ultimate Fighter é fator fundamental na guinada do evento, que pouco mais de nove anos depois é um fenômeno global.

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Para entender melhor a história da primeira edição TUF, que estreou na televisão norte-americana em janeiro de 2005, é preciso voltar alguns meses no tempo. Proprietários de uma rede de cassinos em Las Vegas, Frank III e Lorenzo Fertitta desenvolveram uma relação com o produtor Craig Piligian, proprietário da “Pilgrim Studios” e vencedor do Emmy pelo aclamado programa “Survivor”. O contato se deu pela participação da dupla em outro projeto de Piligian, o reality show “American Casino”.

Imbuídos pelo desejo de popularizar o esporte e aumentar a base de fãs por meio da identificação com os lutadores, que estariam presentes semanalmente na TV a cabo, os dirigentes e o produtor começaram as primeiras conversas sobre o que viria a ser o The Ultimate Fighter. Segundo Dana White, o projeto foi a forma do UFC chegar a um público que ainda não tinha contato com o esporte. “Era o nosso Cavalo de Tróia. Vamos colocar as lutas na TV, mas faremos isso com um reality show”, revelou o presidente em documentário sobre os 20 anos do Ultimate.

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Mas engana-se quem pensa que, tal qual na Guerra de Troia, o “presente” da organização foi bem aceito. No início, as principais emissoras de TV rejeitaram o projeto, fazendo observações principalmente sobre a violência do esporte – ainda muito influenciadas pelo marketing agressivo dos primeiros torneios da organização. Foi necessário um esforço ainda maior por parte do UFC para que o The Ultimate Fighter finalmente saísse do papel. Para que o então recém-lançado canal Spike TV aceitasse a produção, ela teve que ser integralmente bancada pelos cofres do próprio Ultimate. O custo de produção, em valores da época, se aproximou dos US$ 10 milhões.

O TUF 1 e a virada na história do UFC

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Como toda primeira edição, o The Ultimate Fighter 1 teve sua produção marcada pela falta de um modelo definido. Houve problemas na seleção dos lutadores, já que o canal de TV queria personalidades interessantes e o UFC primava pela qualidade técnica dentro do octógono. Passada a etapa de seleção, a inexperiência no formato proporcionou algumas situações, no mínimo, inusitadas. Alguns lutadores não sabiam que os duelos seriam casados entre os 16 moradores da casa e outros pensavam que teriam as seis semanas iniciais de gravação para perderem o peso, para só então lutarem apenas uma vez ao fim do programa.

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O anúncio de que teriam que se enfrentar e chegar ao peso de suas categorias em apenas dois dias não agradou a parte do elenco, que ameaçou não lutar por conta disso. Foi então que Dana White fez um enorme e eloquente discurso questionando a atitude e ao mesmo tempo motivando os participantes do reality show. A declaração de White, encerrada pela repetição exaustiva da pergunta “você quer ser um lutador?”, foi direcionada a diversos atletas que posteriormente escreveriam seu nome na história do UFC, como Josh Koscheck, Kenny Florian, Diego Sanchez, Forrest Griffin, Stephan Bonnar e Nate Quarry.

Dana White dá bronca nos lutadores durante o TUF 1. Foto: Reprodução

Mas não foi só o discurso de Dana que chamou a atenção do público. A escolha dos técnicos para a primeira temporada também foi fundamental para que o TUF se mostrasse interessante para os já iniciados no MMA. Protagonistas da grande rivalidade do esporte naquela altura, Randy Couture e Chuck Lidell foram os responsáveis por comandar as equipes durante o reality. Como bônus para os fãs, os rivais se enfrentariam no octógono ao termino da exibição do programa na TV.

O TUF 1 também foi pioneiro ao inaugurar uma tradição que viria a ser reproduzida em quase todas as edições do reality show: as brincadeiras entre os lutadores. Inicialmente, o principal expoente das chacotas era Chris Leben, que passou boa parte do programa bêbado. No quinto episódio, porém, Leben foi alvo de uma vingança armada por Josh Koscheck e Bobby Southworth. O clima esquentou entre os pesos médios e Dana White decidiu que a única forma de resolver a questão era promovendo uma luta entre Koscheck e Leben.

Mas nenhum momento do programa superaria o evento que recebeu suas finais. Nem mesmo o mais otimista produtor poderia imaginar o sucesso do TUF 1 Finale. No dia 9 de abril de 2005, o modesto Cox Pavilion, em Las Vegas, recebeu o primeiro evento da história do UFC veiculado fora do modelo pay-per-view. A estreia do Ultimate na TV a cabo teria como luta principal o duelo entre Rich Franklin e Ken Shamrock. O primeiro campeão da história do TUF foi definido na antepenúltima luta da noite, quando o então peso médio Diego Sanchez superou Kenny Florian e conquistou um contrato de seis dígitos com o Ultimate. Mas o destaque ficou, totalmente, por conta da final do The Ultimate Fighter na categoria peso meio-pesado.

Bonnar (esq.) e Griffin (dir.) fizeram final histórica do TUF 1. Foto: Divulgação

A incansável batalha de três rounds entre Forrest Griffin e Stephan Bonnar é até hoje lembrada por Dana White como a luta mais importante da história do UFC. “As pessoas que não conhecem, não entendem o quanto aquela luta significou para o esporte MMA e para a companhia, o UFC”, disse o dirigente em entrevista ao site oficial da organização.

As idas e vindas do duelo, que transcorreu quase que em sua totalidade em pé e em meio a uma trocação intensa, fizeram com que o público presente à arena fosse ao delírio e a audiência do card na Spike TV se aproximasse dos dois milhões de espectadores.

Ao término do confronto, Forrest Griffin foi declarado vencedor por decisão unânime dos juízes. O anúncio da derrota, fez com que Stephan Bonnar se atirasse ao chão, num misto de esgotamento e incredulidade. Ainda no octógono, Dana White conversou com Lorenzo Fertitta e, em uma decisão surpreendente, ofereceu também a Bonnar um contrato de seis dígitos com o UFC.

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A reação ao espetáculo proporcionado por Bonnar e Griffin não foi positiva somente por parte dos fãs. Dana White, Frank Fertitta III, Lorenzo Fertitta e Craig Piligian afirmam que o contrato para a segunda temporada do The Ultimate Fighter entre o UFC e a Spike TV foi assinado logo após esta luta, em um beco nos fundos do Cox Pavilion.

O TUF como caminho até o cinturão

Serra (foto) usou o TUF para ficar perto do título do UFC. Foto: Divulgação

O sucesso da primeira temporada do The Ultimate Fighter pode ser medido não só pelos índices de audiência ou pela forma como o programa é referido até os dias de hoje. Esportivamente, o reality show também acrescentou muito ao UFC, já que deu à organização um mecanismo interno de seleção para novos talentos e propulsão de estrelas emergentes. Vale lembrar que Forrest Griffin não só venceu o TUF 1 como, três anos depois, se tornou campeão dos meio-pesados do Ultimate. A chance pelo título contra Quinton Rampage Jackson veio após o norte-americano ser um dos treinadores, ao lado do rival, na sétima temporada do reality show. Griffin viria a perder seu título logo em sua primeira defesa, contra Rashad Evans – que havia sido o vencedor do TUF 2.

No entanto, a grande relação entre o The Ultimate Fighter e o cinturão do UFC foi estabelecida no TUF 4. Após duas edições que se assemelharam bastante à inaugural, o “TUF: The Comeback” se apresentou com uma fórmula renovada e muito atrativa. Todos os participantes do reality eram ex-atletas do UFC que teriam a chance de retornar à organização. E mais: os vencedores dos torneios dos meio-médios e médios teriam o direito de enfrentar, respectivamente, Georges St. Pierre e Anderson Silva pelo título.

Se Travis Lutter não bateu o peso e a luta contra Anderson Silva, em que acabou derrotado por finalização no segundo round, não valeu pelo cinturão dos médios, a iniciativa da organização entre os meio-médios não poderia ter se mostrado bem sucedida. Isso porque foi por meio da vitória no torneio da categoria até 77 kg que Matt Serra se habilitou a protagonizar uma das maiores zebras da história do Ultimate.

No dia 7 de abril de 2007, em Houston (EUA), Serra pisou no octógono contra o favorito Georges St. Pierre, que se preparava para defender pela primeira vez o recém-conquistado cinturão dos meio-médios. Mesmo sendo um faixa preta de jiu-jitsu, Serra surpreendeu GSP na trocação e nocauteou o rival ainda no primeiro round.

Publicado por
Bruno Ferreira
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