A derrota por finalização para Gerald Meerschaert no UFC San Diego abalou o brasileiro Bruno Blindado, que não fez questão de esconder os seus sentimentos. Em entrevista exclusiva ao SUPER LUTAS, o peso médio (até 83,9kg) foi ás lagrimas ao relembrar o revés, revelou o temor pelo fim da carreira e contou os seus planos para o futuro da carreira. Confira as principais declarações do atleta tupiniquim.
“Cara, eu tive que arrumar muita coragem para vir aqui falar depois da luta. Tanto que o Dida (André Dida, treinador de Blindado) falou: ‘Cara, o tempo é seu. Se você quiser falar alguma coisa, eu estou aqui, se você não quiser, te entendo’. Só que, eu sou homem ‘para ganhar’, sou homem quando perco, sou homem para assumir o que faço e ‘as costas aqui é larga’, pode criticar o que quiser, que eu estou aqui”.
“Cara, eu estava até conversando com a minha esposa e com o André Dida… se eu viesse aqui para inventar uma desculpa, eu não ia conseguir. Eu não tenho o que falar, eu não tenho o que dizer. Eu não tenho uma análise da luta, eu não lutei. Eu não estava ali. É como se você trabalhasse numa empresa, você faz todo dia aquele caminho, aquela rota… aí, de repente, o pneu fura, tu pega um engarrafamento, tem um acidente, tudo o que você faz todos os dias, tem um monte de imprevistos. Cara, eu não sei… eu fiz o melhor camp da minha vida, eu treinei muito, treinei muito chão, muita porrada, muito wrestling, mudei muitas coisas no meu treino. Eu tive um corte de peso incrível, perdi o peso sem praticamente precisar usar capa de chuva, nem sauna, não usei nada. Perdi peso só comendo bem, descansando.
No último dia, eu estava sentindo muita ansiedade. Eu estava tentando não demonstrar isso para a minha equipe e meu erro foi esse, de não ter falado com eles sobre isso. No dia da luta, eu acordei descansado mentalmente, eu não queria estar ali. E eu brigando com a minha mente: ‘Caramba, eu estou no UFC, tenho que lutar’ e eu sem aquela gana, sem aquele coração, sem aquela vontade. Não sei, fui dormir de um jeito, acordei de outro. Não era o meu dia, era o dia do meu adversário, Todo o mérito dele, foi inteligente. Não fez o que ele costuma fazer, que é vir pra cima, foi andando para trás. Total mérito dele, agora quem tem que chorar, sou eu.
“Não, só ansiedade. Porque eu costumo ter muito medo quando eu vou lutar. Só que eu medo que eu começo a gostar durante o camp. Não era um medo, era uma ansiedade diferente, uma coisa.. aí eu ligava para minha família, para a minha filha e era uma coisa que me fazia mais mal, porque me dava uma saudade dela, da minha família, sei lá… é uma junção de fatores. Ou eu botei muita pressão em mim. Mudei meu estilo (de lutar): ‘Ah, essa luta eu não vou muito para cima, vou ficar na pontuação ali’. Cara, não dá pra mudar quem tu é, não adianta. Se você é predador, você tem que ser predador. Se você colocar um ‘Sniper’, com uma metralhadora, ele não vai matar ninguém. Tem que ser quem você é, goste quem gostar. A principal lição que aprendi dessa vez é essa. Toda vez que eu fui mudar meu estilo de luta, eu só me dei mal”.
“Dieta eu não mudo nada, treinamento eu não mudo nada, trabalho com psicólogo eu não mudo nada, talvez ficar mais perto da minha família, porque eu fui antes para os Estados Unidos e mandei eles irem antes para a Paraíba para eu ficar um pouco mais sozinho. Só isso. Eu não sei o que falar. Eu pensei mil coisas para falar aqui, mas eu não sei o que falar. Eu só lembro de uma coisa, que eu vou segurar aqui para não chorar, que foi o momento mais marcante para mim no momento da derrota, foi na hora que, eu estava lutando com ele ali, eu estava consciente, mas eu estava sem a gana já, estava sem aquela vontade de ganhar né?”
“Eu não sei o que aconteceu. Eu lembro que, quando ele me deu o golpe, porque eu não vi, pegou e eu falei: ‘Caramba, como é que eu estou aqui?’, aí eu fui pegar na perna dele, quando eu peguei, aí eu pensei: ‘Aqui eu vou respirar e vou levantar’, só que ele faz muito bem aquela posição, eu estava muito grampeado no pescoço. Na hora que eu olhei pro chão, que eu abri o olho e ‘bati’ no chão, na hora me veio a lembrança da minha filha e eu falei: ‘Acabou. Acabei com a minha carreira’. Na hora, veio muito forte essa cena e eu pensei: ‘Acabou a minha carreira, e agora? E a minha família?’. Cara, foi um pensamento muito ruim ali. Foi uns cinco segundos de apavoro. Aí, ele (Gerald Meerschaert) veio falar comigo, foi respeitoso o tempo todo. Fui para o quarto, liguei para a minha esposa e falei: ‘Me ajuda, não sei o que fazer agora…você precisa de mim’. Aí eu fui me acalmando, você vai se acalmando…Aí você vê que não é bem assim…eu lembrei que tenho mais duas lutas no contrato. Claro que isso não garante o emprego de ninguém e também não existe só o UFC, tem muitos eventos no mundo, eu tenho toda uma história no MMA. Enfim, passou. Mas essa cena foi muito forte para mim, ficou guardado em mim aquele momento”.
“Todo mundo tem total direito de falar sua opinião, sobre política, futebol, de luta, de tudo. Cara, mas você vê uns comentários das pessoas. Teve um cara que eu fiquei bem chateado com ele… ele veio falar comigo de Deus no privado, falar do filho dele… aí eu vi um comentário dele numa publicação que apareceu, aí eu tirei um ‘print’ e mandei pra ele. Aí eu disse: ‘Cara, você vem falar de Deus para mim?’. Tem umas coisas que são ruins, por mais que você saiba das críticas, saiba de tudo, é ruim. Eu recebi umas mensagens assim: ‘Se toca, você não tem nível para estar no UFC’. Teve outra: ‘Ah, é fim de carreira. Só foram três lutinhas e já era. Pode pegar suas coisas e ir para a Paraíba, seu paraíba’. Mas, graças ao meu trabalho e ao meu bom Deus, foi muito massa os comentários da maioria da galera. Eu não queria ver os comentários, mas resolvi ler. Cara, de 10 comentários, nove diziam ‘Não era o Blindado’, ‘Estava irreconhecível’.
Essa é a resposta que eu tenho que falar para qualquer pessoa. Eu não me conheci (na luta). Se eu ver a luta, eu quero bater em mim. Eu nem vi a luta ainda, mas eu lembro da luta toda. Mas eu tenho certeza que se eu ver, eu vou ficar com vontade de bater com a cabeça na parede, com raiva de mim mesmo. Só que o principal: não posso tirar o mérito do meu adversário. Isso é o erro de qualquer lutador. Primeiro, tu tem que entender que teu adversário foi bom, foi inteligente. O (Alex) Poatan poderia ter me nocauteado? Não nocauteou. O (Andrew) Sanchez poderia me nocautear? Não nocauteou. O cara que tem o chute mais forte que eu tomei na minha vida, foi o Jordan (Wright). Não me nocauteou. Veio o cara do jiu-jítsu (Gerald Meerchaert), que me deixou preocupado com o chão dele: me deu knockdown. Ele poderia me nocautear? Eu acredito que não, quando eu caí ali, eu já agarrei nas pernas dele, eu acho que eu iria sobreviver o resto do round. Mas ele poderia me nocautear, é MMA, cara… é loucura.
“Eu ainda nem parei pra pensar. A curto prazo, eu não quero (lutar de novo). Eu me conheço muito, eu me cobro muito. Eu sofro mais, porque eu sou meu maior crítico. E eu sei que eu não vou ter cabeça de voltar agora. Mas eu também não quero demorar, porque, só se cura cicatriz ganhando uma luta, não tem como. Se eu lutar só ano que vem, eu vou ficar até o ano que vem sofrendo. Se eu voltar em 2024, vai ser a mesma coisa. Pode ser que eu lute a próxima e perca também, eu não sei. Eu não estou no controle disso, eu tenho que fazer o meu máximo para ganhar. Mas, cara… eu não quero ficar muito tempo (sem lutar). Eu não estava pensando no UFC Rio (Janeiro de 2023), mas, para mim, Dezembro e UFC Rio seriam o tempo ideal agora, eu acho que, eu liguei muito o turbo. Às vezes, a gente tem que respeitar um pouquinho o corpo, né? Tenho que ir no médico, fazer algumas coisas, fazer um check-up do meu corpo. Eu espero que em dezembro, no máximo no UFC Rio, eu já esteja de volta.
Após um início empolgante no UFC, com três vitórias consecutivas, Bruno Blindado foi derrotado por Alex Poatan e Gerald Meerschaert e agora se encontra em momento complicado na organização. O atleta tupiniquim agora possui um cartel de 22 triunfos e oito reveses no esporte.