A história de Charles do Bronx é, de fato, um belo roteiro de Hollywood em que nem os melhores diretores conseguiriam dar a mesma pitada de sofrimento e redenção em uma carreira de um atleta profissional das artes marciais mistas. Hoje, além de maior finalizador do Ultimate (14) em todos os tempos, o brasileiro também se prepara para sua defesa de cinturão dos leves (até 70,3kg.) diante de Dustin Poirier, na luta principal do UFC 269 do próximo sábado (11).
Porém, a retomada rumo ao título não foi a mais fácil de se contar. Diferentemente de sua estreia, em 2010, Charles oscilava no Ultimate quando, em dezembro de 2017, mediu forças contra Paul Felder. A fase não era boa, já que ele tinha três reveses nas últimas cinco lutas e, contra o norte-americano, Do Bronx acabou derrotado no segundo round do duelo.
O que se viu naquela noite do UFC 218 era muito mais do que apenas uma nova derrota – sendo a oitava de sua carreira -, mas o surgimento de um Charles do Bronx diferente, disposto a marcar história. O primeiro passo, inclusive, foi em sua grande área, com as finalizações sobre o veterano Clay Guida e Christos Giagos, em São Paulo, seu estado, para quebrar o recorde de mais finalizações na história da organização.
O ‘carro-chefe’ do brasileiro era, sim, o jiu-jitsu. Mas seria uma heresia dizer que ele se limitava apenas à modalidade. E, apesar de ter se vingado de Jim Miller e David Teymur, era hora de mostrar que o ‘pai estava on’ também na trocação. No combate que marcou o terceiro capítulo de sua rivalidade com Nick Lentz, o peso leve sobrou na luta em pé e, com um direto, nocauteou seu adversário.
Ainda faltava muito. Depois da luta, ainda em entrevista no octógono, Charles do Bronx sabia que poderia fazer (e fez, né?) muito mais. Ele clamou para que o presidente do UFC, Dana White, ‘jogasse’ na fogueira com um top 5 da divisão. A desconfiança se o brasileiro poderia estar entre os melhores fez com que a organização lhe colocasse contra Jared Gordon. O resultado? Outro atropelo. Desta vez no primeiro round, para alegria dos paulistas.
Em março de 2020, Do Bronx estava perto de uma nova apresentação ao público em Brasília. Porém, pouco tempo antes da realização do card, o evento teve que acontecer sem a presença de seus fãs pelo crescimento no número de casos da COVID-19. E, de fato, eles fizeram falta para aplaudir a atuação do representante tupiniquim contra Kevin Lee.
O novo estilo de Charles, que combinava um jogo ajustado em pé, fez com que seu adversário tomasse a pior decisão possível. Depois de claro domínio técnico durante dois rounds, o brasileiro acertou um chute alto que balançou o norte-americano e, na mesma hora, o viu entrar nas pernas com uma tentativa de queda. Era tudo que ele queria. Para mostrar que não havia esquecido os ensinamentos na ‘nobre arte’, o faixa-preta encaixou uma guilhotina ajustada e apenas aguardou Lee dar os ‘três tapas’ para sair celebrando no octógono.
Em uma sequência de sete vitórias seguidas, Charles do Bronx se aproximava de uma disputa de cinturão. Porém, para isso, precisava passar pelo grande ‘bicho papão’ da divisão dos leves (até 70,3kg.) e chegou como azarão para a luta contra Tony Ferguson. Pera lá, faltava tão pouco e com tantas provas em sua carreira, ele pararia agora? Jamais…
Com um domínio completo, o brasileiro não mediu esforços para ‘amassar’ o norte-americano durante três rounds para não deixar dúvidas que teria que disputar o cinturão vago, depois da aposentadoria de Khabib Nurmagomedov. E, segundo ele, poderia vir qualquer um, desde que viesse pronto.
Era a hora da consagração. Após superar muitas dificuldades em sua dura carreira, Do Bronx tinha a chance de se tornar campeão dos leves (até 70,3kg.). E, como sempre, chegou com o status de azarão para o combate contra o ex-detentor do título no Bellator, Michael Chander.
Não seria fácil, né? Charles precisou suportar um castigo do norte-americano no primeiro round para, na volta, se recuperar com um nocaute brutal nos segundos iniciais do segundo assalto. A favela, de fato, venceu. O sonho do menino do Guarujá estava realizado e ele era, sim, o campeão dos leves.
Azarão e por muitas vezes subestimado, o brasileiro defende o título dos leves pela primeira vez no UFC 269. O adversário, Dustin Poirier, derrotou Conor McGregor nas últimas duas lutas e chega bem para o combate. É a hora de um novo show. O ‘pai’ está pronto. Mas qual é o novo capítulo a ser escrito? Chegou a hora de acompanhar…