Glover Teixeira e Raush Manfio: superação em busca de sonhos que podem ser realizados nesta semana

G. Teixeira e R. Manfio lutam por cinturões nesta semana (Foto: Montagem/SUPER LUTAS)

Nesta semana, o Brasil tem dois representantes em busca de títulos em duas das maiores organizações de MMA do mundo. Na quarta-feira (27), Raush Manfio enfrenta Loik Radzhabov na final do torneio peso leve (até 70,3 kg) da PFL (Professional Fighters League). No sábado (30), é a vez de Glover Teixeira encarar o campeão Jan Blachowicz pelo cinturão meio-pesado (até 93 kg) do UFC. Mas a nacionalidade e o fato de lutarem pelo ouro na mesma semana não é tudo que Glover e Raush têm em comum.

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Glover Teixeira e Raush Manfio têm histórias que poderiam virar filmes. Embora sejam diferentes, as sagas dos brasileiros em busca da realização dos sonhos em organizações norte-americanas possuem muitas semelhanças, sendo a maior delas a força de vontade.

Da travessia ilegal da fronteira ao sonho do cinturão do UFC

Hoje prestes a completar 42 anos e disputar pela segunda vez o cinturão do UFC, Glover precisou embarcar em uma aventura que poderia ter o final trágico. Natural de Sobrália, pequena cidade no interior de Minas Gerais, Glover Teixeira seguiu um caminho arriscado, mas que atrai milhares de pessoas em busca de condições melhores: a perigosa travessia ilegal para chegar aos Estados Unidos. Aos 19 anos, deixou tudo para trás e foi atrás de seu sonho.

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Para chegar aos Estados Unidos, Glover passou por Colômbia e Guatemala até chegar a Tijuana, cidade no México pela qual cruzaria a fronteira com a ajuda de “coiotes”. Em entrevista ao programa “Esporte Espetacular”, da Rede Globo, Glover contou que a travessia para San Diego durou seis horas e, que ao chegar em território norte-americano, precisou ficar 13 dias trancado em um quarto antes de ser levado para Connecticut, outro estado, no qual trabalhou a maior parte do tempo com jardinagem e reside até hoje.

Glover Teixeira teve um ótimo início de carreira no MMA, chamando a atenção do UFC. No entanto, a situação ilegal em que se encontrava, não permitia que ele assinasse com a organização. Com o pedido de visto negado, o mineiro de Sobrália retornou ao Brasil, onde permaneceu por mais de três anos esperando um perdão do Governo dos Estados Unidos. No dia 23 de dezembro de 2011, sua esposa conseguiu, junto a um senador de Connecticut, a liberação para que ele voltasse aos Estados Unidos em situação legal.

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De volta aos Estados Unidos, Glover Teixeira foi contratado imediatamente pelo UFC. O brasileiro emplacou cinco vitórias consecutivas antes de ter a primeira oportunidade de disputar o cinturão dos meio-pesados, contra Jon Jones, em abril de 2014. O mineiro, no entanto, não foi páreo para o então campeão e acabou derrotado.

Com altos e baixos após a primeira derrota no Ultimate, Glover reencontrou a ótima fase a partir de janeiro de 2019, já com 39 anos. De lá pra cá, são novamente cinco vitórias consecutivas e, hoje, restando dois dias para completar 42 anos, o brasileiro se prepara para uma nova chance pelo cinturão em duelo contra Jan Blachowicz, neste sábado (30), na luta principal do UFC 267, em Abu Dhabi.

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Três anos sem lutar, bicos para juntar dinheiro e pacto com a esposa

Assim como Glover, Raush Manfio teve que passar por poucas e boas na busca de seu sonho.

Convidado para treinar na American Top Team, na Flórida, o gaúcho juntou o pouco dinheiro que tinha e embarcou para os Estados Unidos, deixando a esposa Michele para trás, mas não sem antes fazerem um pacto. O casal combinou que ficaria no máximo um ano afastado. Se Raush não conseguisse se estabilizar e levá-la para morar com ele dentro desse período, teria que voltar para o Brasil.

Em seu primeiro ano em território norte-americano, Raush Manfio assinou com o Titan FC, evento regional da Flórida, no qual teve um bom início. No entanto, a bolsa de mil dólares paga pela organização não era suficiente para deixar o alojamento de atletas da American Top Team, onde vivia, e levar a esposa para viver com ele. Além disso, Raush não poderia trabalhar legalmente em outros ramos, pois possuía apenas o visto de atleta.

Em entrevista ao “Esporte Espetacular”, Raush Manfio contou que, durante uma ida à igreja que frequentava, o pastor o chamou e contou que os fiéis se sensibilizaram com sua história e decidiram ajudá-lo a levar a esposa para os Estados Unidos, se comprometendo a pagar quatro meses de um aluguel até que ele e Michele arrumassem empregos e se estabilizassem. Um dia antes do encerramento do pacto do casal, Michele desembarcou na Flórida.

Precisando renovar o visto de atleta para se manter legalmente nos Estados Unidos e conseguir novas oportunidades de lutas, Raush passou a fazer bicos em construções para juntar o dinheiro. Com o visto renovado, o gaúcho deu sequência a boa fase e tornou-se campeão do Titan FC. Insatisfeito com o pagamento que recebia na organização, no entanto, optou por encerrar o contrato.

Fora do Titan FC, Raush chegou a fechar acordos para nove lutas, assinando contrato em quatro delas, mas, por variados motivos, nenhuma delas aconteceu.

Em 2019, o nascimento da primeira filha do lutador, Pietra, tornou a situação ainda mais complicada. Sem conseguir fechar lutas e, consequentemente, sem patrocínio, Raush precisou diversificar as opções de trabalho. O gaúcho pintou casas, foi personal trainer, segurança e faxineiro. Em 2020, o que parecia ruim, piorou. Com a pandemia do coronavírus, não havia mais trabalhos como segurança e faxineiro, nem eventos para lutar. E mais uma filha estava a caminho.

O trabalho como personal trainer, no entanto, começou a dar resultados, levando Raush a pensar seriamente em desistir do MMA e conversar com seu empresário, Brian Butler, que pediu um mês para tentar reverter a situação. Duas semanas depois, Raush Manfio entrou como substituto do lesionado Olivier Aubin-Mercier em uma luta na PFL e derrotou Joilton Peregrino. Na sequência, superou o ex-campeão do UFC Anthony Pettis e, na semifinal do torneio dos leves, Clay Collard, garantindo uma vaga na final da competição.

Nesta quarta-feira (27), Raush Manfio enfrenta Loik Radzhabov pelo título do torneio dos leves da PFL e pelo prêmio de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5,6 milhões), buscando dar um final mais do que feliz a essa história.

Publicado por
Fernando Keller