Fera na trocação e destaque brasileiro nos palhas (até 52,1kg.) do Ultimate, Marina Rodriguez já é uma referência na organização. Estrela do UFC Las Vegas 39, que acontece neste sábado (9), a atleta falou com exclusividade ao SUPER LUTAS sobre sua trajetória até chegar ao topo do MMA. Do Design Gráfico até às luvas de quatro onças, conheça a história da gaúcha que brilha no octógono.
Famosa por seu estilo agressivo e trocação afiada, Rodriguez nem sempre pensou em ser uma lutadora profissional. Antes de brilhar no UFC, a lutadora se testou em outras situações, mas foi no MMA que encontrou a verdadeira paixão.
Muitos não sabem, mas Marina possuía outra profissão antes de partir para as artes marciais mistas. Formada em Design Gráfico, a gaúcha explicou o que a levou ao esporte e narrou parte de sua vida antes do MMA.
“Isso é uma coisa que eu nunca falei para ninguém, eu fazia judô quando eu era pequena, fui até a faixa laranja, mas tive que sair. Esse foi meu primeiro contato (com as artes marciais). Passou ‘minha vida inteira’ e, quando eu me mudei do Rio Grande do Sul para Florianópolis (SC), eu comecei a estudar. Sou formada em Design Gráfico, trabalhava na área e pensei que precisava fazer alguma coisa que exigisse mais o físico. Sempre fui atleta, praticava todos os esportes no colégio. Eu tinha em mim que queria ser uma atleta, tinha jeito para qualquer esporte. Foi aí que, em Florianópolis, decidi procurar uma academia de lutas e encontrei a ‘Thai Brasil Floripa’. Cheguei para a minha primeira aula de Muay Thai, conheci meu mestre, Marcio Malko, gostei, mas não foi fácil, porque eu estava um pouco acima do peso. Meu mestre olhou e disse: ‘essa menina tem uma pegada’. Um dia ele me perguntou: ‘tem interesse de lutar?’. Eu: ‘quero!’. Foi ali que ele viu que tinha um grande futuro”, narrou a brasileira.
Prodígio na luta em pé, não demorou muito para Marina entender que seu futuro estaria nas artes marciais. Mas, uma atleta especialista na trocação poderia ter sucesso nas artes marciais mistas? A própria combatente responde.
“Eu fiz umas 12 lutas amadoras no Muay Thai e, até então, não pensava no MMA. Um dia, meu mestre me convidou para fazer um treino no MMA. Pensei: ‘ah, já vi na TV, sei como faz algumas coisas. Fizemos e ele falou: ‘acho que esse é o caminho. Vamos?’. Fiz minha primeira luta amadora de MMA, venci uma menina que tinha ‘200’ lutas de Muay Thai e ainda tinha jiu-jitsu. Enchi ela de porrada. Meu mestre disse que ali estava o futuro e o dinheiro e que a gente poderia fazer uma grande carreira. Aí, comecei a treinar jiu-jitsu e começou a vida no MMA”, contou.
A ‘artes marcial mista’, com o passar dos anos, evoluiu de modo que modo que suas regras foram adaptadas para preservar, ao máximo, a integridade física dos atletas que se arriscam em sua prática. No entanto, é fato que um entusiasta despreparado pode colocar sua vida em risco, caso seja ‘jogado aos leões’ sem uma boa estratégia para a migração. Pensando assim, como é a reação da família quando se vê uma ente querida se arriscar em tal esporte?
“Eu não sei a realidade (risos), mas acabou sendo natural. Como fiz muitas lutas amadoras de Muay Thai, aos poucos, a família foi entendendo, vendo que eu me dava bem no esporte. Um dia, meus pais foram na academia, meu mestre conversou com eles, explicou o plano que ele tinha comigo dentro do mundo da luta. Com certeza, eles ficaram muito mais tranquilos com isso. A cada luta, minha mãe sempre diz: ‘quando eu te vejo subir no octógono, você se transforma. Nem parece a Marina’. Meus pais sabem que eu sei o que estou fazendo. Óbvio, têm os momentos de dificuldades no octógono, que eles devem ficar loucos. Não é fácil criar uma filha para ‘levar umas porradas’ (risos), mas, quando a filha sobe lá e bate, aí, sim”, revelou.
Profissional no MMA desde 2015, em março, Rodriguez completou seis anos dentro da nova profissão. Passado esse período, a lutadora, hoje, é destaque na maior organização de MMA do mundo. Marina, então, fala sobre o processo de evolução e não se surpreende com o resultado.
“Muita gente acha que foi rápida a minha trajetória. É que foi tudo muito bem planejado. Marcio Malko conseguiu enxergar os lugares certos que eu deveria ir, a hora certa e, uma coisa que muita gente não sabe é que fiz 10 lutas (consecutivas) sem ter férias, sem descansar, porque nosso objetivo era entrar no UFC. Como entrei muito tarde no mundo da luta, não tinha como ficar esperando. A gente fez essas lutas uma atrás da outra, sempre treinando, estando 70%, 90% pronta para pegar as oportunidades de luta. Antes de entrar pelo ‘Contender Series’, fiz duas lutas em menos de 15 dias e consegui a oportunidade de entrar no UFC. Fui lá, nocauteei e entrei. Nosso objetivo não é só entrar, fazer uma luta, ganhar um dinheiro, gastar. Não, não. Toda luta que fazemos, voltamos para casa já pensando na próxima. O objetivo é bem maior do que apenas ser uma atleta do UFC. O objetivo é o cinturão”, garantiu.
Depois de sete lutas com as luvas do Ultimate, Marina, hoje, ocupa lugar de destaque nos palhas e é vista com bons olhos pela diretoria da empresa. Caso vença neste fim de semana, o sonho ficará mais perto. Mas, uma vitória sobre Mackenzie Dern pode levar a uma disputa imediata?
“Vencendo essa luta de uma maneira bem expressiva, quem sabe um nocaute, uma finalização, com certeza meu nome vai estar na porta de uma disputa de cinturão. Não tenho dúvidas. As meninas que estão na minha frente no ranking, muitas não estão disponíveis. Sei que a Carla Esparza está na espera e ela mereceu. Por mim, ela deveria ser a próxima desafiante, mas, como deram a revanche para Weili Zhang (contra Rose Namajunas, no UFC 268), ela vai ter que esperar. Penso que ela (Esparza) pode ser a próxima, mas, caso ela esteja ocupada ou aconteça alguma coisa, vou estar pronta. Se ela lutar pelo cinturão e vencer, para mim, melhor ainda, porque vou conseguir uma revanche (Carla derrotou Rodriguez em 2020) em uma disputa de cinturão”, cravou.
Para tentar ocupar o topo absoluto dos palhas, Rodriguez novamente terá um compromisso de peso em seu caminho. Neste sábado, a atleta divide o protagonismo do UFC Las Vegas 39 com a compatriota Mackenzie Dern. Ciente de que não terá vida fácil, a gaúcha analisou o desafio seu desafio mais importante, até o momento.
“Ela (Mackenzie) tem o melhor jiu-jitsu entre todas as meninas do UFC, porém, não é uma luta de jiu-jitsu. Todo mundo sabe que o MMA é bem diferente. Já vimos em outros casos de caras que são top no jiu-jitsu perderem até no melhor estilo deles. Mackenzie é muito dura, tem o chão muito afiado, mas a luta vai começar em pé. Temos que ver o que vai acontecer. Antes da luta contra Amanda Ribas (última rival de Marina), a declaração dela (de Ribas, que foi atropelada pela compatriota com um duro nocaute) foi exatamente essa, que ela tinha o melhor jiu-jitsu. Tudo bem, mas tem que saber que do outro lado tem alguém que está preparada para isso. Vai ser um confronto de estilos. A gente sabe que a Mackenzie está treinando a trocação só para ‘colar’ e botar para baixo. A trocação eu já tenho e está evoluindo. Na parte de chão, estou evoluindo sempre. Estou 100% confiante em fazer a nossa estratégia. Não tenho receio nenhum de ir para o chão. Sei do talento dela e trabalhei para estar em todas as áreas dentro do octógono. Não vai ser uma luta fácil, não, como ela disse que vai ser. Eu quero mais e vou dar a minha vida lá dentro”, disse.
Se Marina é conhecida por sua trocação de excelência, o desfecho de seus sonhos não poderia ser diferente. Com desejo de vencer na via rápida, a resposta veio veloz como um direto.
“Com certeza, um nocaute, uma mão bem encaixada na ponta do queixo no primeiro round, seria perfeito. Todo mundo sonha entrar em uma luta, piscar e, quando vê, já está com o braço levantado. Com certeza, com bônus da noite”, encerrou.