Para muitos, o lendário Evander Holyfield pode dispensar apresentações. No entanto, para outros que não acompanharam o auge de um dos maiores pugilistas de todos os tempos, vale relembrar alguns momentos do atleta. Aos 58 anos, o veterano deixa a aposentadoria neste sábado (11) para um desafio contra Vitor Belfort nas regras da ‘nobre arte’.
Disposto a retomar a carreira após mais de 10 anos de inatividade, Holyfield ‘caiu de paraquedas’ no super desafio de boxe contra Belfort. O multicampeão dos pesados entra no show como substituto de Oscar De La Hoya, que deixou o evento após testar positivo para Covid-19.
Sem lutar desde maio de 2011, Evander manifestou o desejo de retornar aos ringues na temporada passada. A apresentação de seu maior rival no esporte, Mike Tyson, contra Roy Jones Jr., acabou se tornando o estopim para que o quase ‘sessentão’ retirasse as luvas do armário e voltasse a se preparar para um novo confronto.
Antes de chegar ao estrelato, lotando ginásios e arenas famosas por receber lendas como Muhammad Ali e Rocky Marciano, Holyfield fez sucesso representando os Estados Unidos. Em 1983 e 1984, o, então, prospecto, escreveu seu nome na história esportiva de seu país.
Em 1983, Evander foi à Venezuela para disputar os Jogos Pan-Americanos. À época, o pugilista atuava entre os meio-pesados, e fez bonito. Holyfield conseguiu chegar às finais, mas acabou perdendo a chance de levar o ouro contra Pablo Romero, ficando, assim, com a prata.
No ano seguinte, um novo show. Em 1984, Evander integrou a comissão norte-americana de boxe com o sonho de uma medalha olímpica para seu país.
Nos Jogos Olímpicos de Verão, realizado em Los Angeles (EUA), o pugilista contribuiu para que os Estados Unidos terminassem a competição em primeiro lugar, com 174 medalhas, no total.
Obviamente, Holyfield representou o país no boxe e, assim como nos Jogos Pan-Americanos, atuou como meio-pesado. O atleta, no entanto, foi pivô de uma grande polêmica na reta final da competição. Na tentativa de chegar à grande final, Evander enfrentava o neozelandês Kevin Barry e acabou desqualificado ao aplicar um golpe que, segundo os juízes, foi ilegal. Na ocasião, o combatente teria acertado o rival após o soar do gongo.
A desqualificação e, consequente derrota de Evander fez com que o atleta ficasse com o bronze como ‘prêmio de consolação’. Ainda assim, o lutador fala com orgulho da conquista. Em 2015, em entrevista ao ‘Inside the Games’, a lenda falou sobre a emoção de ter representado seu país.
“Chegar naa equipe Olímpica dos EUA foi a melhor coisa que consegui. (…) Todas as vezes em que subi no ringue, todo o público estava comigo e gritando o meu nome. Foi a primeira vez na vida que todos estavam do meu lado. (…) O país inteiro estava comigo e nunca mais tive esse sentimento”, desabafou o lutador.
Após a medalha olímpica, só restava ao combatente buscar o ‘ouro’ na carreira de um pugilista profissional: o cinturão – ou cinturões.
Franzino, pode ser. Fraco? Nem pensar. Com 1m89cm, Evander Holyfield começou sua carreira como profissional no boxe aos 22 anos. Para os padrões da época, o atleta era considerado baixo para trocar forças contra rivais que poderiam tomar vantagem no tamanho.
Com força física e técnica apurada, o lutador ignorou os possíveis percalços e deu início a uma jornada vitoriosa que seria consagrada com cinturões e reconhecimento dos fãs.
Nos primeiros anos, Evander foi implacável. Nocautes devastadores e atuações convincentes foram impulsionando o lutador ao topo dos rankings.
A primeira vítima no esporte foi Lionel Byarm. Contra o rival, Holyfield saiu vitorioso por pontos em luta realizada há quase 37 anos, no consagrado ‘Madison Square Garden’.
Em agosto de 1985, o pugilista deu início a uma sequência impressionante. O nocaute sobre Rick Myers foi o pontapé para mais cinco vitórias na via rápida. O sonhado cinturão viria no ano seguinte, aos 23.
Em 12 de junho de 1986, a vida de Holyfield mudaria para sempre. Após 11 vitórias consecutivas, chegava a hora de disputar seu primeiro título na WBA (Associação Mundial de Boxe), ainda no peso cruzador (90,7kg.).
O adversário era Dwight Muhammad, que, meses antes, havia superado Leon Spinks, nome famoso por ter batido o lendário Ali, em 1978, em uma das maiores ‘zebras’ na história do boxe. No confronto, vitória para Evander na decisão dividida dos juízes.
A revanche de Dwight aconteceria em dezembro de 1987. Desta vez, nada de vitória por pontos. Com um nocaute no quarto round, Holyfield desbancou o rival e manteve o título.
Em maio de 1987, Holyfield foi escalado para enfrentar o campeão mundial do peso cruzador pela Federação Internacional de Boxe (IBF), Ricky Parkey. Na disputa, os atletas colocariam seus títulos em jogo e o vencedor levaria os dois cinturões.
Contra Parkey, mais um nocaute. A cada apresentação, Evander evoluía e, agora, somava dois em organizações diferentes, além de seguir invicto na carreira.
Com uma trajetória de sucesso, até aquele momento, seguiu invicto e aceitou mais um desafio: buscar o cinturão ‘Continental Americas’ da Confederação Mundial de Boxe (WBC). O adversário da vez: Michael Dokes.
O confronto aconteceu no famoso ‘Caesars Palace‘, em Nevada (EUA). Na luta, mais um nocaute para a conta. Evander superou o rival no 10º assalto, de 12 previstos e somou mais um título para a coleção.
Na sequência, Evander teria um compromisso que entraria para a história no boxe brasileiro. O norte-americano dividiria o ringue contra Adilson Rodrigues: o Maguila.
O ano: 1989. O Brasil pararia para acompanhar um nome importante para o pugilismo nacional trocando forças contra uma das grandes estrelas do boxe mundial.
O confronto foi transmitido em TV aberta. Maguila, naquele tempo, impressionava com seus números no esporte. Afinal, eram 35 vitórias em 37 apresentações.
Quem se ligou na transmissão, acabou, no entanto, acompanhando o calvário do pugilista brasileiro. Mesmo com seu poder nos punhos, capazes de nocautear adversários com golpes singulares, Maguila foi capaz de suportar dois rounds contra Holyfield. Após um cruzado de direita, Adilson simplesmente apagou, gerando uma imagem bastante forte para aqueles que acompanhavam.
Para quem acompanhava o boxe nos anos 1990, James ‘Buster’ Douglas se tornou uma espécie de mito. O lutador se tornou o primeiro atleta da história, no boxe profissional, a vencer o ‘imparável’ Mike Tyson, tomando o cinturão da WBA que pertencia ao ‘Homem de Aço’.
Se Douglas proporcionou aos fãs do esporte uma ‘zebra’ histórica, Holyfield era o homem que corrigiria o ‘erro’. Na primeira defesa de título de James, brutalidade. Buster não foi capaz de repetir a boa atuação de meses antes contra Tyson e sucumbiu com um nocaute no terceiro round.
Com a vitória, Evander somava em sua prateleira três cinturões: WBA, WBC e IBF.
Protagonista de uma das melhores lutas na história, junto a Muhammad Ali, o lendário ‘The Rumble in the Jungle’, em 1974, Foreman seguia na ativa ainda nos anos 1990. Disposto a recuperar seus antigos cinturões na WBA e WBC, a lenda precisava superar Holyfield para fazer história.
O confronto aconteceu em 19 de abril de 1991, em Nova Jersey. Mesmo mostrando a mesma resistência de sempre, George não foi capaz de superar Evander, que saiu vencedor na decisão unânime dos juízes após 12 rounds disputados.
Pouco mais de um ano após bater Foreman e realizar mais duas defesas de cinturão – uma delas contra Lerry Holmes, único homem na história a nocautear Muhammad Ali -, veio a primeira derrota de Holyfield. Após 28 vitórias consecutivas, a ‘queda’ veio contra Riddick Bowe.
O tropeço de Evander fez história em 13 de novembro de 1992. Contra Bowe, o então campeão foi superado na decisão unânime dos juízes, perdendo os títulos da WBA, WBC e IBF.
Para recuperar o posto de campeão dos pesados, Holyfield precisou de um novo teste. O adversário da vez era Alex Stewart, em junho de 1993. Contra o jamaicano, uma vitória por pontos credenciou o norte-americano a uma revanche contra Riddick.
O reencontro com Bowe aconteceu meses depois de superar Stewart. Desta vez, a vitória veio para Evander, que superou o rival na decisão majoritária dos juízes, reconquistando, assim, os títulos da WBA, e IBF, antes, em posse de seu antigo algoz.
Em abril de 1994, Holyfield voltou a balançar e perder os cinturões. Na primeira defesa de título depois da vitória contra Bowe, o campeão sucumbiu.
Contra Michael Moorer, em luta de 12 rounds, Evander perdeu por pontos. Na decisão majoritária, o norte-americano voltou a ser destronado.
Em 1997, o boxe ficaria marcado pela origem de uma rivalidade comentada ainda nos dias de hoje. Depois de um período instável na carreira, Holyfield se reencontrou no esporte e conseguiu se credenciar para um confronto contra o ‘homem mais temido do mundo’, na época, Mike Tyson.
Considerado um dos melhores pugilista de todos os tempos, Tyson vivia bom momento no boxe depois de ser condenado a seis anos de prisão, em 1992, acusado de estupro, e cumprir a metade da pena. Quando deixou a penitenciária, Mike parecia imbatível.
Após duas ‘lutas teste’ contra Peter McNeeley e Buster Mathis Jr., ambas em 1995, o ‘Homem de Ferro’ foi escalado para encarar Frank Bruno, pelo cinturão da WBC, em 1996.
Contra Bruno, um atropelo: nocaute no terceiro round. Na sequência, também em 1996, Tyson enfrentou Bruce Seldon, pelo título da WBA. Desta vez, atropelo no primeiro assalto.
Tudo parecia voltado ao normal para Tyson no boxe. O atleta ‘colecionava cabeças’, até se encontrar com Holyfield pela primeira vez.
Em 9 de novembro de 1996, Evander subiu ao ringue na tentativa de retomar o título da WBA, perdido em 1994. Para isso, o lutador precisaria domar a ‘Fera Tyson’ e ele conseguiu.
Com técnica apurada e uma atuação de gala, Holyfield ‘ignorou’ a fama de Mike e, ao longo dos rounds, comprovou sua superioridade. No minuto inicial do 11º assalto, a surpresa. Evander consegue o nocaute sobre a lenda e recupera seu antigo cinturão.
Com prestígio no boxe, Mike conseguiu a revanche imediata contra Holyfield. A luta, no entanto, entrou para a história como uma das maiores e mais assustadoras cenas da modalidade.
O duelo, acompanhado por milhões de espectadores ao redor do mundo, aconteceu na MGM Arena, um dos grandes palcos do boxe. O show, que tinha tudo para ser marcado pelo confronto entre dois atletas de elite, decepcionou após uma atitude desleal e chocante de Tyson.
Durante três rounds, Holyfield repetia a boa atuação do primeiro encontro. Agressivo e preciso, o lutador não dava chances a Mike, que, perdeu a cabeça e passou, no clinch, a tentar morder a orelha do adversário.
Desesperado no ringue, Tyson tanto tentou, que conseguiu. O ex-campeão, com uma mordida, arrancou, literalmente, um pedaço da orelha de Holyfield, que gritava desesperado e incrédulo pelo ringue. Após a ação, o ‘Homem de Ferro’ foi desqualificado e nunca mais conseguiu conquistar um título no boxe.
Sempre no topo do esporte, Evander voltaria a perder o cinturão em novembro 1999, contra outra lenda, Lennox Lewis. Meses antes, os atletas trocaram e acabaram empatando. Na revanche, pior para Evander, batido na decisão unânime dos juízes.
Imparável na modalidade, Holyfield conseguiu recuperar o título vago da WBA, em 2000, já com 37 anos. O reinado, porém, durou pouco. Em sua primeira defesa, na revanche contra John Ruiz, o atleta foi superado por pontos e, na terceira luta, decisiva, empatou e se afastou do sonho de manter o trono.
Com 44 anos, Evander seguia competindo em alto nível no esporte que o tornou famoso mundialmente. A boa fase fez com que o veterano se credenciasse para enfrentar Sultan Ibragimov, pelo cinturão da Organização Mundial de Boxe (WBO).
A luta, realizada na Rússia, ‘casa do adversário’, acabou decidida nos pontos. Na decisão unânime dos juízes, o norte-americano saiu derrotado.
Em 2008, aos 46, Holyfield ressurgiu e foi escalado para encarar o ‘gigante’ Nikolai Valuev, pelo cinturão da WBA. À época, o duelo gerou polêmica por conta do resultado. Evander acabou derrotado na decisão majoritária, gerando comoção por parte dos fãs, que sonhavam ver o veterano somando um cinturão na modalidade.
Em maio de 2011, Evander subiu ao ringue para aquela que seria sua última luta no boxe profissional. Aos 48 anos, o veterano foi à Dinamarca para encarar o ‘dono da casa’, Brian Nielsen.
Ainda em grande forma física, o nocaute foi o desfecho. Holyfield precisou de 10 rounds para supera o rival e, em tese, pendurar as luvas.
Desde novembro de 2020, quando acompanhou seu maior rival, Mike Tyson, retornando ao boxe após mais de 15 anos de inatividade, Holyfield mostrou o interesse em voltar ao ringue. Depois de desafiar o próprio ‘Homem de Aço’ e chegar a encaminhar um confronto contra o também ex-campeão, Kevin McBride, Evander terá um desafio diferente.
Após meses treinando para sua volta, Holyfield topou o desafio de substituir Oscar De La Hoya no super desafio de boxe contra a lenda brasileira no MMA, Vitor Belfort. O confronto será válido nas regras profissionais e tem previsão de oito rounds de dois minutos.
Como já fez em outros tempos, Evander terá a oportunidade de chocar o mundo. Sem lutar há mais de 10 anos, o veterano precisará de uma grande performance para superar um adversário 14 anos mais jovem e com fama de nocauteador.