Pouco mais de uma semana após a conquista histórica no UFC 262, Charles do Bronx segue em êxtase depois de ganhar o mundo ao superar Michael Chandler e assumir o trono dos leves (até 70,3kg.). Novo campeão do grupo, o brasileiro abriu as portas da sua casa e, com exclusividade ao canal no YouTube do SUPER LUTAS, desabafou sobre o maior momento de sua carreira. O paulista também falou sobre as dificuldades para chegar ao topo do MMA e analisou seu futuro na organização.
Quem acompanha a trajetória de Charles no UFC desde o início, sabe que o brasileiro não teve vida fácil até chegar à conquista histórica realizada em 15 de maio. Para conquistar o título, o paulista passou por altos e baixos, mas, guerreiro, o paulista se encontrou, superou as adversidades e, hoje, exibe com orgulho o cinturão almejado por qualquer lutador de MMA.
Foram 27 lutas até que Do Bronx, enfim, conquistasse o direito de disputar o cinturão da organização – a maior sequência de confrontos na história da organização até uma luta por título. No Ultimate desde 2010, o brasileiro passou por momentos de instabilidade e admitiu que, em um dado momento, chegou a desconfiar que o ‘ouro’ pudesse não chegar.
“Já pensei em desistir, bem no começo. Olhando para trás, eu vejo o tanto que valeu a pena passar por tudo o que eu passei para chegar até aqui. Tudo o que eu já passei, resume ao que eu pergunto para todo mundo hoje. As pessoas falam: ‘quero ser lutador’. Você está disposto a treinar? Hoje eu pergunto: ‘está disposto a pagar o preço?’. Não é um preço baixo. É um preço muito alto. Quando você ‘não é ninguém’, você tem que largar sua família, amigos, festa, mulher, tudo, em busca de um sonho. Do mesmo jeito que eu quero, tem mais dois, três milhões que querem. (…) Quando você começa a brilhar, você incomoda. Infelizmente, esse é o mau do ser humano. Quando você incomoda, tem pessoas que não querem o seu bem. (…) É um preço dolorido”, afirmou.
Da conquista histórica em 15 de maio até a chegada ao Brasil, foram menos de 48 horas. Sem dormir e recebido com festa no aeroporto de São Paulo, o campeão falou sobre as sensações refletidas na comoção do público que recebeu o atleta em solo tupiniquim. A emoção maior, no entanto, foi quando o destaque nacional entrou o título nas mãos do pai, o senhor Francisco Antônio da Silva.
“Quando chegamos no Guarujá (SP), carro de bombeiros, milhares de pessoas. Minha mãe falava: ‘tem muita gente para bater foto’. Eu falava: ‘manda subir’. Gente abraçando, chorando, agradecendo, a senhora de idade falando que eu era o ‘novo Ayrton Senna’, os mais novos querendo pegar o cinturão na mão (…). Quando eu parei em casa e meu pai pôde pegar (o título), começou a passar um filme de anos atrás, meu pai falando que eu ia chegar, ia ser campeão. Tudo o que a gente passou. (…) As pessoas que falavam que eu nunca ia chegar. (…) Comecei a chorar e lembrar de tudo o que eu passei para chegar até aqui. (…) Hoje, a gente tem uma jóia na mão. São várias sensações”, disse o campeão.
Com um percurso pedregoso até a maior conquista na carreira, o roteiro para a posse do cinturão não poderia ser fácil. Antes do nocaute brutal sobre Chandler no UFC 262, Do Bronx assustou os fãs após um bom momento do adversário no primeiro round. Dias depois do duelo, o brasileiro analisou o confronto e admitiu um erro crucial no começo do desafio.
“Eu acreditava no meu nocaute no primeiro round. No primeiro round, eu errei. Eu não ande para trás, como falei que não andaria. Só que ele batia e eu bloqueava. Quando você só bloqueia, você é um Bob (boneco usado para treinos). Então, isso que eu errei. Quando ele (Chandler) jogou (o golpe) e eu respondi, era o que deveria ter acontecido no primeiro round. Quando ele joga, eu respondo. (…) Ele estava ‘morto’. Se me bater, tem que bater duro, senão eu não caio. Se eu bater em você, você sente. (…) É uma nova era, um novo Charles, número um do mundo, campeão”, afirmou.
Embora não seja certo, existe grandes chances de que o primeiro desafiante ao cinturão de Do Bronx seja o vencedor da trilogia entre Dustin Poirier e Conor McGregor. Sobre os atletas que se enfrentam em 10 de julho, o campeão analisou o confronto e revelou não ter preferência sobre o rival.
“De verdade, desde quando eu entrei no UFC, nunca escolhi adversário nenhum. Nunca lutei visando o dinheiro. (…) Todo mundo sabe que uma luta contra o McGregor vai te dar dinheiro, visibilidade. Vou continuar do mesmo jeito. ‘Pés no chão’, humilde, respeitador. Quem for para vir, venha. (…) Que vença o melhor. São dois caras duríssimos. Dustin vem evoluindo demais e o Conor é um cara que é muito ‘malandro’. Vai ser uma ‘guerra”, encerrou.
Aos 31 anos, Do Bronx se profissionalizou no MMA em 2008. Até o momento, o brasileiro ostenta um cartel com 40 apresentações. Hoje, o paulista soma 31 vitórias, oito derrotas e uma luta ‘sem resultado’.