Mais próximo do que nunca de realizar um sonho, Charles do Bronx tem motivos de sobra para comemorar. Confirmado como adversário de Michael Chandler na disputa do título vago dos leves (até 70,3kg.), o brasileiro narrou o momento em que soube da informação que atuará pelo cinturão. Em entrevista exclusiva ao canal no YouTube do SUPER LUTAS, o paulista falou sobre a situação.
Há quase 11 anos no Ultimate, Do Bronx vive seu melhor momento dentro da empresa. Com oito vitórias consecutivas, o brasileiro conquistou o direito de atuar pelo trono da categoria após uma atuação dominante sobre o temido Tony Ferguson, em dezembro de 2020. Cerca de quatro meses depois, o brasileiro teve seu esforço reconhecido.
Atual número três do ranking, que ainda é liderado por Khabib Nurmagomedov – aposentado desde outubro -, Charles se manteve firme na posição de que apenas retornaria ao octógono por uma disputa de título. O brasileiro, então, falou sobre o momento em que a notícia da ‘luta dos sonhos’ chegou.
“Meu empresário estava negociando muito forte para uma disputa de cinturão, mas a gente não tinha nada. Eu tinha ido para o sítio na quinta-feira (18) de tarde. Lá não tem sinal de telefone. (…) O único telefone que pega sinal é o do meu pai. (…) Para meus empresários entrarem em contato comigo, ou aconteceu algo ou marcaram luta. Na hora, eu entrei no carro e vim para a cidade. Quando cheguei lá, imagina o telefone (com tantas mensagens). Comecei a chorar, meu pai também. Foi sensacional”, contou o atleta.
Perto de um momento histórico para o Brasil, Do Bronx sempre faz questão de lembrar das suas origens. Com infância difícil, o atleta se emocionou ao falar das dificuldades que passou até chegar ao topo do MMA mundial, onde poderá assumir a posição deixada por uma lenda na modalidade.
“Quem me conhece de verdade sabe tudo o que eu já passei. (…) Quando eu tinha nove para 11 anos, eu fiquei dois anos internado. Tive reumatismo nos ossos e sopro no coração. Minha mãe trabalhava como faxineira na escola, meu pai na feira. (…) Sempre fui um ‘moleque’ sonhador. Comecei a tomar benzetacil de 15 em 15 dias. (…) O médico falou para a minha mãe que eu seria uma criança diferente, que esporte, para ele, não pode. (…) Eu não tinha uma vida de criança. (…) Parei de tomar injeção e aí entrei no jiu-jitsu e, um mês depois, voltei a passar no médico e, quando eu me sentei, joguei a medalha, ele perguntou o que era aquilo e meu pai disse: ‘ele é campeão paulista de jiu-jitsu’. (…) Anos depois, eu posso ser o campeão do UFC”, desabafou.
Destaque nos leves, Do Bronx, hoje, figura entre grandes nomes de uma das divisões mais concorridas da organização. Diante de um cenário repleto de estrelas, o brasileiro respondeu se chegou a temer perder uma das vagas pelo cinturão. Sincero, Charles não fugiu da pergunta.
“Quando eu entrei no UFC, falei: ‘sou um menino no meio dos leões’. Hoje, eu me sinto um leão no meio dos leões. Nessa minha trajetória, vão fazer 11 anos. Altos e baixos, acertos e erros. Tudo aquilo que você faz na vida, se você não aprender, você acaba ficando para trás. (…) Eu era o número sete, queria lutar contra o top 5 e os caras nem falavam meu nome. (…) Eu aprendi com isso. (Depois que venci Ferguson), falei que a luta que deveria ser feita era contra Dustin Poirier pelo cinturão. Quando chegou certo momento, vi que o Dustin estava dando muito foco na luta contra o Conor (McGregor), por causa do dinheiro, eu pedi o Dustin Poirier ou qualquer outro cara que seja pelo título. Estava saindo a luta Justin Gaethje e Michael Chandler. Dei parabéns, mas o que me importa é o cinturão. Os fãs me mandaram mensagem falando que eu estava sendo passado para trás. (…) Estou há 11 anos no UFC e eu vendo a luta da mesma forma. Querem ver show, me coloquem para lutar. Se eu perder, vou perder na guerra, se ganhar, vou ganhar na guerra. Não tem meio termo. Não vou ficar falando para acontecer. Hoje, a gente vai lutar pelo cinturão. (…) Se não temos um nome forte lá dentro (do UFC), não tem como negar as coisas. Tem que aceitar o que mandam”, finalizou.
No Ultimate desde agosto de 2010, o compromisso pelo título marcará a primeira disputa de título do brasileiro no Ultimate. Hoje, com 31 anos, Do Bronx soma 39 apresentações como profissional no MMA. O paulista tem 30 vitórias, oito derrotas e uma luta ‘sem resultado’.
Recém-chegado no Ultimate, Michael Chandler conseguiu um confronto pelo título após sua estreia de gala contra Dan Hooker. Lenda do Bellator, o norte-americano atropelou o rival no UFC 257 e assumiu posição de destaque nos leves.