Famoso por não ter papas na língua e tratar seus assuntos no universo do MMA da maneira que bem entende, Nate Diaz novamente protagonizou uma situação incômoda para a diretoria do Ultimate. Após ser notificado pela USADA (Agência Antidoping dos Estados Unidos), na última semana, sob a afirmação de que haviam encontrado substâncias proibidas em um exame, o norte-americano foi a público e divulgou o caso, alegando que era inocente e se retirando do card do UFC 244, que acontece neste sábado (2). O caso, como esperado, teve grande repercussão e, em poucos dias, foi esclarecido que o combatente poderia realizar o duelo.
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A substância encontrada no corpo de Diaz é chamada de LGD 4033, um receptor de andrógeno que pode ser utilizado em pessoas com perda de massa muscular. O fato irritou o protagonista do evento deste final de semana, que sempre foi atento e crítico às polêmicas envolvendo lutadores que tentaram se beneficiar fazendo uso de produtos que condicionariam um aumento de performance.
Antes mesmo que a USADA ou o Ultimate fizessem uma declaração oficial sobre a situação de Nate, o atleta preferiu usar as redes sociais para se retirar do evento e garantir sua inocência. Na mesma publicação, o combatente exigiu que as investigações fossem feitas de forma correta para que não manchassem sua trajetória como atleta, que, apesar de polêmico, nunca havia falhado em um teste desta categoria.
Em sua defesa, Diaz afirmou que apenas faz uso de alimentos 100% naturais, descartando qualquer hipótese de ingestão proposital ou má fé durante seu período de treinamento.
Após a declaração do norte-americano, as informações a respeito do caso começaram a surgir na imprensa e o que foi informado foi que a quantidade de substância encontrada no corpo do lutador não era suficiente para que o atleta fosse retirado do card ou até punido. O que teria acontecido poderia ser a ingestão de algum alimento contaminado e o combatente não teria realizado o consumo de forma consciente.
Afinal, o que o atleta ingeriu?
Segundo comunicado oficial da USADA, divulgado após a declaração de Diaz, o LGD 4033 foi ingerido a partir de uma vitamina comprada em uma loja famosa por vender produtos naturais e saudáveis, conhecida como ‘Whole Foods Market’. O pronunciamento da Agência Antidoping, portanto, serviu para inocentar Nate de qualquer dúvida em relação à sua índole esportiva.
Questionamento
Mesmo com o esclarecimento da USADA, há de se pensar sobre se o que revelaram condiz, de fato, com a verdade, ou existe a possibilidade de ter havido uma manobra para que o atleta fosse mantido no card deste final de semana e o Ultimate não tivesse que arcar com um prejuízo iminente.
Qual o sentido teria um estabelecimento conhecido pela qualidade de seus produtos naturais adulterar um complexo vitamínico adicionando uma substância feita em laboratório e que facilmente seria flagrada em um eventual teste de um atleta profissional? A dúvida pode ser facilmente atribuída ao caso, já que, em um curto espaço de tempo, foi possível se fazer análises clínicas e identificar corretamente o local e produto de consumo.
De fato, Diaz não é o primeiro combatente a ser flagrado neste tipo de exame e nem ser absolvido após estudo aprofundado de caso. No entanto, o tempo para a solução do assunto foi curto e passível de dúvidas.
Casos semelhantes
Recentemente, um dos atletas mais promissores do Ultimate, Sean O’Malley teve seu nome envolvido em uma situação de doping. O atleta, que está invicto em sua carreira como profissional no MMA, foi suspenso por seis meses e, como defesa, alegou que foi vítima de suplementos contaminados, como teria acontecido com Diaz. O’Malley está sem lutar desde março do ano passado e, recentemente, garantiu seu retorno ao octógono no ano que vem.
Outra situação envolvendo um combatente, mas que teve final feliz – ao menos financeiramente – foi com o ex-desafiante ao título dos médios, Yoel Romero. Em 2016, o cubano foi notificado pela usada sob acusação de ter ingerido Ibutamoren, uma substância que aumenta a produção de hormônios. Na época, o atleta havia recebido uma punição de nove meses.
Romero, no entanto, se tornou o primeiro atleta a recorrer de uma decisão imposta pela agência. Em maio deste ano, o atleta comprovou sua inocência após vencer um processo contra uma empresa que teria vendido produtos contendo suplementos com porções de substâncias contaminadas, o que o atleta havia alegado em sua defesa no passado.
Com o desfecho, o cubano acabou recebendo US$27,45 milhões (cerca de R$107,211 milhões) e comprovado sua inocência diante da agência e seus fãs.
O que o Ultimate perderia com a ausência de Nate
Para realização do confronto entre Jorge Masvidal e Nate Diaz, o UFC investiu pesado. Os atletas foram escalados para protagonizar a luta principal da noite após a diretoria não ter conseguido entrar em acordo financeiro com Colby Covington para encarar o campeão meio-médio (até 77kg.), Kamaru Usman.
Com os norte-americanos em evidência na companhia e vindos de boas vitórias, restou a Dana White acertar as condições de seus funcionários e confirmar o encontro no Madison Square Garden (Nova York), um dos principais palcos da luta da história.
Além da pompa do local, a diretoria do Ultimate também criou um cinturão simbólico, que vai ser dado ao vencedor do encontro e entregue por, nada mais, nada menos, do que The Rock, um dos maiores astros do cinema de ação na atualidade. A cinta confeccionada tem valor de aproximadamente US$50 mil (cerca de R$200 mil) e as vendagens de pay-per-view estão acontecendo a todo o vapor.
Com a saída da estrela da noite com pouco mais de uma semana para o espetáculo acontecer seria catastrófico para a empresa, já que seria praticamente impossível encontrar um atleta pronto para lutar e que trouxesse público e vendagem para o UFC 244.
Situação parecida com o UFC 244
Em 2016, houve um caso semelhante ocorrido no Ultimate. Apenas dois dias antes da revanche entre Daniel Cormier e Jon Jones, no UFC 200, o campeão foi flagrado em um exame antidoping e acabou deixando o card com menos de 48 horas. Na ocasião, Anderson Silva se ofereceu para encarar DC e tentar salvar o espetáculo. Silva acabou derrotado, mas conseguiu ajudar a organização.
Nova política da USADA
O Ultimate se manifestou sobre a manutenção da luta principal do UFC 244. Segundo publicação no próprio site da empresa, novas políticas são adotadas em relação a testes antidoping desde março deste ano. O UFC afirmou que, quando os níveis de substâncias proibidas encontrados nos exames de um atleta forem consideravelmente baixos – como os de Diaz – o lutador não sofrerá punição imediata até que novas análises sejam feitas. Leia parte do documento.
” Desde 31 de agosto de 2019, algumas mudanças significativas na Política Antidoping do UFC foram acordadas em princípio entre o UFC e a USADA e, como tal, foram colocadas em prática. Uma dessas mudanças é a adoção de níveis de concentração com base científica, também conhecidos como limiares mínimos, para certas substâncias proibidas, onde as evidências demonstram que testes positivos dessas substâncias abaixo do limiar são consistentes com contaminação inocente. Uma amostra positiva de uma substância aplicável abaixo dos resultados do nível de concentração decididos é tratada como um achado atípico. Uma descoberta atípica não resultará em violação na ausência de outros fatos ou circunstâncias que confirmem que o atleta pretendia obter um benefício terapêutico ou aprimoramento não autorizado do desempenho através do uso da substância”, escreveram.
Desfecho
Nate nunca chegou a ser desligado do card. Desde o início da história, o lutador foi mantido pela empresa. Há de se pensar que tudo foi solucionado em poucos dias, quando, em outros casos, as definições de situações levam meses para serem resolvidas. Nas redes sociais do Ultimate, a promoção do combate segue a todo vapor, com entrevistas, vídeos e fotografias dos atletas da luta principal.
Tudo parece certo para a realização do espetáculo.
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