Banimento da TRT no MMA completa um ano; confira o que mudou desde então

Fim da prática para os atletas do UFC afetou rotina de nomes como Vitor Belfort, Chael Sonnen, Dan Henderson e Antônio Pezão

Belfort, Sonnen, Henderson e Pezão foram alguns dos usuários da TRT. Foto: Produção SUPER LUTAS (Divulgação/UFC)

Belfort, Sonnen, Henderson e Pezão foram alguns dos usuários da TRT. Foto: Produção SUPER LUTAS (Divulgação/UFC)

Uma das mudanças mais importantes da história recente do MMA completa seu primeiro aniversário. No dia 27 de fevereiro de 2014, a Comissão Atlética de Nevada proibia oficialmente a terapia de reposição de testosterona, a TRT, prática que vinha gerando muita polêmica e discussão.

A TRT é um tratamento aplicado a pacientes que possuem baixa produção natural de testosterona, um dos principais hormônios masculinos. Após a detecção do problema por meio de exames, a prática consiste na aplicação do hormônio no organismo para que o nível se equipare ao de um adulto saudável.

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Muitos atletas que se utilizavam do tratamento alegavam sofrer de hipogonadismo, que, nos homens, implica no mal funcionamento dos testículos. De acordo com médicos, a baixa testosterona no organismo causa diversos efeitos indesejados, como falta de energia, mudanças de humor, dificuldade para ganhar músculos e maior propensão ao acúmulo de gordura no corpo.

Porém, no MMA, o assunto nunca foi muito bem aceito. Atletas que faziam o uso da TRT, como Vitor Belfort, Chael Sonnen e Alistair Overeem, eram frequentemente criticados pelos demais lutadores, já que uma das possíveis causas da baixa testosterona no organismo é o abuso de esteroides anabolizantes no passado. Belfort, que já foi flagrado em exame antidoping no passado, era um dos alvos mais atacados.

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A situação chegou a um nível insustentável quando o próprio Belfort, quando se preparava para desafiar Chris Weidman pelo cinturão do UFC, foi flagrado em um exame antidoping surpresa com níveis elevados de testosterona no organismo. Tal episódio gerou uma série de acontecimentos que culminaram na proibição total da TRT por parte da Comissão de Nevada, entidade que serve como modelo para as diversas comissões que regulamentam eventos de MMA no planeta.

A proibição provocou uma correria em meios aos atletas e exigiu uma série de adequações por parte daqueles que se utilizavam do tratamento. Algumas lutas foram canceladas, sendo que outros lutadores não se apresentaram da mesma forma desde então e outros ainda sequer retornaram à ativa. O SUPER LUTAS relembra o que mudou para os principais personagens nesta história.

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Alvo de questionamentos, Belfort ainda não lutou pós-TRT

Curiosamente, o principal personagem quando o assunto é TRT no MMA ainda não sentiu na pele os efeitos da proibição do tratamento. Vitor Belfort ainda não se apresentou no octógono desde então, sendo que o nível no qual irá se apresentar em seu retorno é um dos grandes pontos de interrogação dos fãs do esporte.

Quando a TRT foi banida, Belfort tinha luta marcada contra Chris Weidman para maio de 2014. Porém, devido à proximidade da luta com o fim do tratamento, o brasileiro foi substituído por seu compatriota Lyoto Machida, que acabou sendo derrotado pelo campeão dos médios. Belfort, que havia sido flagrado no exame antidoping no início daquele ano, esperava seu julgamento para saber quando poderia voltar à ativa.

V. Belfort (foto) foi alvo da ironia de Mousasi. Foto: Josh Hedges/UFC

Última luta de Belfort, com TRT, foi em novembro de 2013. Foto: Josh Hedges/UFC

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Em audiência da comissão, Belfort foi absolvido dentro de algumas condições, entre elas ser submetido a diversos exames antidoping surpresas e não poder lutar até dezembro de 2014. Foi quando o brasileiro teve reagendada sua luta contra Weidman no UFC 181, no último mês do ano passado. Porém, por lesão do norte-americano, a luta acabou sendo reagendada para o UFC 184, que acontece no próximo fim de semana. O campeão voltou a se machucar e adiou a luta para maio, no UFC 187.

A forma física de Belfort desde a proibição da TRT é alvo de discussões e debates de fãs mundo afora. Por mais que o brasileiro declare que não se sente enfraquecido com a mudança, seu treinador na academia Blackzilians, Henri Hooft, admitiu que via Belfort com mais músculos na época do tratamento. As respostas serão dadas no dia 23 de maio, quando enfim o “Fenômeno” terá a chance de mostrar no octógono seu rendimento pós-TRT.

Proibição abriu caminho para aposentadoria de Sonnen

Outro usuário da TRT, o polêmico Chael Sonnen, viu sua carreira no MMA chegar ao fim com a proibição do tratamento no esporte. Quando tinha luta agendada no UFC 175, em julho de 2014, o falastrão norte-americano caiu em um exame antidoping com excesso de testosterona mesmo que o tratamento de reposição já tivesse sido banido.

Na época, Sonnen justificou o uso do hormônio e afirmou que aquilo lhe auxiliava nas tarefas do dia a dia. Além disso, o norte-americano declarou, na época, que estava fazendo tratamento para engravidar sua esposa. Pouco depois, um novo exame antidoping foi feito e mostrou que, na verdade, o buraco era muito mais embaixo. Sonnen foi flagrado com diversas substâncias proibidas e recebeu uma suspensão de dois anos. Acuado, o norte-americano admitiu a trapaça e anunciou sua aposentadoria do esporte.

Henderson ainda não sabe o que é vencer pós-TRT

O veterano Dan Henderson sentiu na pele em poucos meses os dois lados da moeda com a proibição da TRT. Na época em que a decisão da Comissão de Nevada foi anunciada, o “velhinho casca-grossa” já tinha luta marcada para pouco depois, em março, quando enfrentaria Maurício Shogun no UFC em Natal (RN). Justamente pela proximidade da atração, a Comissão Atlética Brasileira de MMA deu ao norte-americano a autorização para seguir com o tratamento por uma última vez.

No combate no Nordeste brasileiro, Henderson sofreu nas mãos do curitibano, que esteve perto de nocautear em dois momentos. No entanto, no terceiro round, Henderson acertou sua perigosa mão direita, obtendo uma vitória que parecia improvável por nocaute técnico. Apenas dois meses depois, Henderson estava novamente de volta ao octógono do UFC. O experiente enfrentaria Daniel Cormier no UFC 173, em Las Vegas (EUA), já sem poder fazer uso da terapia.

Duelo entre Hendo (dir.) e Shogun (esq.) bateu a marca de um milhão de espectadores. Foto: Josh Hedges/UFC

Última vitória de Hendo, contra Shogun, ainda foi com a TRT. Foto: Josh Hedges/UFC

O primeiro indício de mudança foi visto logo na pesagem. “Hendo” bateu 90,2 kg, ficando longe do limite de peso da categoria, 93 kg, e com 1,5 kg a menos do que atingiu em sua luta contra Shogun. Na luta em si, Henderson foi completamente dominado por Cormier, que o finalizou de forma clássica no terceiro round.

Diante da enorme diferença de tamanho vista na luta contra Cormier, “Hendo” decidiu descer novamente para a categoria dos médios. A luta que marcou seu retorno à divisão até 84 kg foi em janeiro, no UFC on FOX 14, contra Gegard Mousasi. O norte-americano novamente não conseguiu voltar à velha forma e acabou perdendo por nocaute técnico com somente um minuto de luta, caindo após levar um golpe que facilmente aguentaria no passado. Aos 44 anos, sendo o atleta mais velho do UFC, Henderson ainda não definiu se irá se aposentar ou não.

Pezão e Mir: dois lados de uma mesma moeda

O combate principal do UFC em Porto Alegre (RS), no último domingo (22), contou com Antônio Pezão e Frank Mir, dois lutadores que faziam uso da TRT no passado. E o resultado do combate mostrou que a proibição pode ter efeitos completamente diferentes nos corpos dos atletas.

Pezão, que sofre de acromegalia, começou a fazer uso da TRT em seu combate contra Mark Hunt, no fim de 2013. Naquela luta, considerada uma das mais emocionantes daquele ano, Pezão apresentou bastante resistência física e absorção de golpes, além de ter atuado em um ritmo considerado alto para a divisão dos pesados. Pouco depois, o lutador foi flagrado em exame antidoping com doses elevadas de testosterona, provocadas pelo uso inadequado do tratamento de reposição.

Assim, Pezão ficou suspenso por nove meses, retornando no UFC em Brasília, em setembro de 2014. Já sem a TRT, Pezão foi rapidamente nocauteado por Andrei Arlovski. Pouco depois, novo nocaute no Brasil, diante de Frank Mir. Apesar das derrotas fulminantes, Pezão afirma que ainda está em plenas condições físicas de seguir competindo.

Com Mir, a história foi outra. Também usuário da TRT, o norte-americano não vinha em bom momento em seus últimos combates, sofrendo quatro derrotas seguidas. Na primeira luta após a proibição do tratamento, Mir se apresentou ágil e forte.

Trabalho de comissão segue intenso após banimento

Quem achava que o trabalho das comissões atléticas ficaria mais fácil com o banimento da terapia de reposição de testosterona se enganou. No ano passado, com o fim da TRT no MMA, a entidade de Nevada continuou indo além e intensificou ainda mais os exames antidoping, realizando testes surpresa em alguns dos atletas de lutas principais do UFC.

Neste período, sucumbiram em exames nomes como Jon Jones, Anderson Silva e Hector Lombard, além de diversos outros atletas menos conhecidos. Com isso, o UFC decidiu aumentar ainda mais a fiscalização e deverá intensificar os testes nos próximos meses.

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