Alguns atletas de alto nível encontram dificuldades para entender qual é o momento certo para se aposentar. Este, no entanto, não é o caso de Cláudia Gadelha. Ex-desafiante ao cinturão dos palhas (até 52,1kg.) do UFC e uma das pioneiras do MMA feminino no Brasil, a mossoroense surpreendeu ao anunciar a aposentadoria precoce no esporte, na última semana. Passado o momento, a combatente falou com exclusividade ao SUPER LUTAS e desabafou sobre a decisão.
Veja Também
Aos 33 anos, Claudinha se retirou das artes marciais mistas em posição de destaque nos palhas. Sua última luta aconteceu em novembro de 2020.
Decisão difícil
Abandonar o esporte que a tornou famosa mundialmente não foi simples para Gadelha. Mesmo certa de que está tomando a decisão correta, a brasileira falou sobre as dificuldades de parar.
“É uma decisão muito difícil na vida de qualquer atleta, uma transição muito difícil. É delicada. A gente vê muitos atletas passando do ponto, às vezes, não performando como antes. Passou do ponto físico, mental. Eu nunca quis ser uma dessas atletas. Sempre procurei prestar muita atenção em como eu me comportava nos treinos e octógono. Eu não estava feliz com minhas últimas performances. (…) Não conseguia me conectar com treinadores, treinamentos, me lesionando muito”, contou.
Lesão rara no MMA
Além de priorizar seu bem-estar fora do octógono, Cláudia também revelou outro motivo delicado para se posicionar a favor da aposentadoria. A mossoroense confessou ter sofrido uma lesão rara dentro do MMA, e explicou a condição.
“No ano passado, sofri uma lesão que não é muito conhecida no Brasil. Nos Estados Unidos, jogadores de futebol americano têm muito essa lesão. (…) Foi uma lesão no cérebro. Tive uma concussão e os sintomas persistiram por um longo período. É uma síndrome pós-concussão. Muita dor de cabeça, náusea, vômito, questões emocionais. Me lesionei sério e demorou muito tempo. Dois meses atrás, fui liberada pelos médicos do UFC, pela Comissão Atlética, comecei a treinar, mas não tinha a mesma motivação. As pancadas na cabeça começaram a me assustar de uma forma que acho que não vale mais a pena para mim. Treino desde criança, comecei a lutar MMA com 18. Sou nova, mas tive uma carreira longa. Não quero prolongar lesões no meu corpo e nem na minha cabeça. Estou pronta para o próximo passo”, revelou.
Do octógono para o escritório
Decidida a abandonar de vez as luvas, Gadelha está empolgada para o próximo passo de sua vida. A brasileira deixa o octógono, mas seguirá atuando junto ao UFC. Satisfeita, a atleta falou sobre sua nova função.
“Estou muito feliz com a oportunidade. No último ano, ajudei muitos amigos que lutam no UFC, mas não tinham muita direção do que fazer. Eu moro em (Las) Vegas vai fazer seis anos. Assim que abriu o Instituto de Performance do UFC, eu já estava lá dentro, usando os serviços, entendendo como funcionava, melhorando minha performance, entendendo a ciência que existe por trás do esporte. Isso me deu uma consciência corporal e física muito grande. Comecei a ficar mais feliz em ajudar os atletas que estavam ali do que indo lá performar. Tenho muito disso, de ajudar as pessoas. Quando surgiu a questão da lesão, que o Dana (White) me chamou e disse que tinha outras possibilidades, a primeira coisa que pensei foi: quero ajudar a galera do Brasil. No lado de performance e do entretenimento. Foi meio que decisão minha. O UFC se sentou com o time e escreveram uma função para mim. Me deram o título de ‘Diretora de Desenvolvimento de Atletas’. Vou trabalhar diretamente com o Rodrigo Minotauro fazendo vários projetos para desenvolver a performance dos atletas do Brasil”, explicou.
Histórico da atleta
Desafiante ao cinturão dos palhas do UFC em 2016, Claudinha Gadelha deixa o MMA aos 33 anos, com 23 lutas disputadas. Ao longo de 13 anos de carreira, a brasileira somou 18 vitórias e cinco derrotas.