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Ter a oportunidade de disputar o cinturão do UFC é o sonho de qualquer lutador de artes marciais mistas. A possibilidade de conquistar o título da maior organização de MMA do planeta motiva o treinamento de centenas de atletas, já que uma vitória representaria a coroação definitiva de anos de esforço.
Neste sábado (26), mais um brasileiro terá a chance de realizar seu sonho. Glover Teixeira terá a dura tarefa de destronar o campeão dos meio-pesados, Jon Jones, no UFC 172. E a expectativa é de que, até o fim do ano, mais dois atletas tupiniquins tenham a mesma oportunidade: Lyoto Machida enfrentará Chris Weidman no UFC 175 pelo título dos médios, e, entre os pesados, Fabrício Werdum terá pela frente Cain Velasquez, em confronto que deverá ser realizado ainda neste ano.
Porém, não é sempre que as coisas acontecem como o esperado. Uma derrota em luta pelo cinturão obriga o atleta lidar com a frustração de chegar muito perto de sua meta, mas não alcançá-la, tendo que recomeçar praticamente do zero o seu caminho rumo ao topo. Por isso, o SUPER LUTAS conversou com alguns personagens que não conquistaram o título do UFC em suas primeiras tentativas. Confira!
Pezão: foco é em aprendizado e em volta por cima após derrotas para Velasquez
A trajetória de Antônio Pezão no UFC tem a presença marcante (e incômoda) de Cain Velasquez, atual campeão dos pesados da categoria. Após uma trajetória de sucesso no Strikeforce, o paraibano chegou ao Ultimate em maio de 2012 enfrentando, logo de cara, o norte-americano de descendência mexicana, que havia acabado de perder o cinturão para Júnior Cigano.
A luta não foi como Pezão planejou. Logo no início, ele desferiu um chute, o que deu brecha para Velasquez conseguir a queda. Depois, com um ground-and-pound poderoso, o norte-americano conseguiu o nocaute técnico, dando a Pezão uma derrota amarga logo em sua primeira luta no UFC.
Pouco tempo depois, veio a volta por cima. O brasileiro venceu, por nocaute técnico, o até então invicto Travis Browne; na luta seguinte, conseguiu um nocaute espetacular sobre o favorito Alistair Overeem. Os combates foram suficientes para que Pezão tivesse uma nova chance contra Velasquez – desta vez, pelo cinturão.
“Foi uma oportunidade maravilhosa. É o sonho de todo atleta de MMA estar no UFC. Só de estar dentro do UFC já foi uma honra muito grande, um sonho realizado. Depois, tive a oportunidade de disputar o cinturão, o que só não foi o máximo porque eu não venci. Cheguei quase no ponto máximo de realização pessoal e profissional, então foi tudo de bom”, analisou Pezão, com exclusividade ao SUPER LUTAS.
Se a primeira luta com Velasquez foi mais demorada, sofrida e sangrenta, o mesmo não pode se dizer da revanche. Após pouco mais de um minuto de combate, o campeão conectou um forte direto no queixo de Pezão, que caiu em knockdown. Poucos golpes depois, veio a interrupção do árbitro, dando a vitória a Velasquez com 1min21s de ação.
“Eu estava muito bem fisicamente. Eu sabia que o Velasquez poderia me derrubar, mas ele não teria essa facilidade, tanto é que ele tentou duas, três vezes, e não conseguiu”, analisou o paraibano.
Mesmo que o sonho do cinturão tenha acabado de forma rápida, Pezão extraiu um valioso aprendizado da situação. “Eu sabia que o jogo do Velasquez seria me colocar para baixo, porque é isso que ele faz. Mas ele é um atleta completo. Eu fiquei muito focado em não ir para baixo, mas ele veio com um direto que pegou e eu senti. Chegamos a uma conclusão que não adianta ficar focado em só uma parte do jogo, mas sim com tudo. É um esporte completo”, avaliou.
Psicologicamente, no entanto, a dificuldade de Pezão foi menor. “Para mim, é normal. Estou acostumado a dificuldades na vida, já que minha vida sempre foi feita de obstáculos. Foi tranquilo. Conversei muito com meu treinador, na época, o Katel Kubis, para ver o que foi feito de errado. Voltei a treinar duas semanas depois e dei a volta por cima. Quero mostrar que nada disso me abalou e que mereço estar entre os melhores da categoria”, comentou.
Napão reconhece que estava “cru” quando enfrentou Couture, em 2007
Outro brasileiro que teve a chance de disputar o cinturão dos pesados do UFC foi Gabriel Napão. A chegada à luta pelo cinturão foi surpreendente e, de certa forma, repentina para o carioca, já que ele precisou vencer uma luta eliminatória na qual era o azarão absoluto.
Napão foi escalado para fazer, na Inglaterra, a luta mais importante da sua vida até então. Seu adversário seria a estrela Mirko Cro Cop, que chegou ao UFC com moral após seu título no GP Absoluto do PRIDE, com nocautes impressionantes sobre Wanderlei Silva e Josh Barnett. Na época, esperava-se que, com uma vitória sobre o desconhecido Napão, o croata teria a chance de lutar pelo título. Não foi o que aconteceu. O brasileiro conseguiu um chocante nocaute contra Cro Cop, com um memorável chute alto, dando a ele a luta contra o então campeão da categoria, Randy Couture.
Em agosto de 2007, Napão perdeu por nocaute técnico para o norte-americano no terceiro round. Em uma queda, Couture desferiu uma cabeçada não-intencional em Napão, o que causou ao brasileiro uma fratura no nariz. “Quebrei o nariz no início da luta com um acidente, e ficou muito difícil de respirar”, explicou o lutador ao SUPER LUTAS. “Mas foi uma luta muito importante para minha carreira. Lutei com a lenda Randy Couture e perdi, mas dei meu melhor. Saí da luta muito feliz, sendo que já tive vitórias em que não saí tão feliz.”
Apesar de Napão ter se credenciado de maneira legítima para enfrentar Couture, ele acredita que ainda não estava totalmente preparado para a oportunidade. “Com certeza eu ainda estava muito cru, imaturo na luta. Mas isso faz parte. Oportunidades iguais a essa são muito raras”, avaliou. “Depois de a luta ter acabado, a gente pensa em outras opções para ter um melhor resultado, mas nunca saberemos se essa outra estratégia seria melhor. Eu faria a mesma estratégia, mas com um pouco mais de cautela.”
Porém, o brasileiro lidou com naturalidade com a derrota. “Para mim não foi muito difícil. Voltei a treinar e estou aí, tentando outra oportunidade até hoje. A parte difícil é lidar com qualquer derrota, mas quando você luta bem e dá o seu melhor, fica muito mais fácil. Claro que muita gente vai criticar o seu trabalho, mas esse é o mundo onde vivemos e temos que saber lidar com isso”, argumentou.
Thales Leites: “Não lutei pensando em vencer. Lutei pensando em não perder”
A situação de Napão é parecida com o que aconteceu com Thales Leites dois anos depois. Depois de cinco vitórias seguidas no UFC, sendo três por finalização, o lutador da academia Nova União pôde enfrentar Anderson Silva pelo cinturão dos médios no UFC 97, em abril de 2009.
Após a derrota na decisão em uma luta morna, Leites constatou que o lado psicológico foi seu maior problema. “Acho que, naquele momento, eu não estava preparado psicologicamente para aquilo. Eu não estava maduro o suficiente e não pensava com a cabeça de campeão. Acho que eu lutei muito apático, pensando em não perder, e isso não é bom. O que eu faria de diferente seria lutar para vencer, e não pensando em não perder”, comentou o lutador ao SUPER LUTAS.
O carioca, que chegou a ser demitido do UFC pouco depois da luta, retornando apenas em 2013, completa: “Lutar pelo título é parte de um sonho realizado, mas o sonho só se completa com o título. Perder é difícil, mas a vida continua. Você precisa acreditar em si mesmo e saber que tem condições de seguir em frente. É assim na vida. Estamos em constante evolução e, se você aceitar a derrota, você já está derrotado”, disse.
“Estou feliz que eu não tenha conquistado o título”, diz Thiago Pitbull
Enquanto alguns dos lutadores que perdem lutas pelo cinturão ficam abalados, outros veem o acontecido com certo alívio. Este é o caso de Thiago Pitbull, que vê com bons olhos sua derrota para Georges St. Pierre em 2009, pelo cinturão dos meio-médios do UFC.
O cearense diz que sua vida pessoal está, atualmente, muito diferente do que era há alguns anos. “Eu não estava pronto para o título naquele momento. Estou feliz que eu não o tenha conquistado. Talvez eu nem estaria vivo se eu tivesse sido campeão na época, porque eu estava no caminho errado”, disse, em entrevista ao site da emissora “ESPN”.
Ainda jovem, com 30 anos de idade, o lutador ainda busca uma nova chance de lutar pelo cinturão. “A categoria sempre foi competitiva, mas a maior ameaça sempre foi St. Pierre, porque ele é um lutador muito esperto. Não vejo outros caras fazendo isso. A categoria está aberta, então vejo uma grande oportunidade”, comentou.
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